segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Curtas premiados no encerramento da V Janela de Cinema


Foto: Tiago Calazans

O V Janela Internacional de Cinema do Recife encerrou com a exibição de LAWRENCE DA ARÁBIA no Cinema São Luiz na noite do domingo 18/11 e premiação oficial de curtas metragens nacionais e internacionais. Foram 10 dias com mais de 12.000 espectadores nas sessões que aconteceram no Cinema da Fundação e Cinema São Luiz. Além de comemorar os 60 anos do Cinema São Luiz, através das sessões Clássicos do Janela, apresentou a consolidação do formato digital sobre o celulóide. Apenas 20% dos filmes foram exibidos no antigo formato 35 mm e, com a perfeição das projeções digitais de cópias restauradas, toda uma nova geração viu filmes como A Noviça Rebelde, Rastros de Ódio, Psicose, Tubarão, O Leopardo, Taxi Driver e outros, como nunca foram vistos antes.

A quinta edição foi marcada também por uma pertinente discussão sobre importantes questões atuais de cidadania e uso de espaços públicos, levando durante 10 dias grande público ao centro de uma cidade que passa por um processo de verticalização e privatização urbana violenta, discutida inclusive dentro da programação, nos vídeos do programa A Câmera Cidadã no Recife. O Janela cresceu, numa edição maior e mais organizada, com projetor digital e som de alta qualidade especialmente alugados para o Cinema São Luiz, que deverá estar definitivamente equipado pela Fundarpe com equipamentos digitais para a próxima edição. Até lá!

Premiação do V Janela do Recife

1. PRÊMIO DA FEPEC – Federação Pernambucana de Cineclubes

Nacional: A Onda Traz, O Vento Leva, de Gabriel Mascaro (Pernambuco)
Internacional: Dag (Adeus), de Tamar Van den Dop (Holanda)

2. PRÊMIO DA ABD/PE – Associação Brasileira de Documentaristas

Nacional: Animador, de Cainan Baladez e Fernanda Chicolet (São Paulo)
Internacional: The Mass of Men, de Gabriel Gauchet  (Reino Unido)

3. PRÊMIO DA OFICINA JANELA CRÍTICA

Nacional: Quem Tem Medo de Cris Negão? de René Guerra (São Paulo)
Internacional: The Mass of Men de Gabriel Gauchet (Reino Unido)

4. JURI INTERNACIONAL

Prêmio especial do júri: Cabelo Curto, Gordinha e Baixinha, de Petite Taille, de Robin Harsch (Suíça)
Melhor Som: Rafa, de João Salaviza (Portugal)
Melhor Montagem: O Que Arde Cura, de João Rui Guerra da Mata (Portugal)
Melhor Imagem: Manhã de Santo Antônio, de João Pedro Rodrigues (Portugal)
Melhor filme: Rodri, de Franco Lolli (França)

5. JURI NACIONAL

Prêmio especial do júri: O Duplo, de Juliana Rojas (São Paulo)
Melhor Som: A Onda Traz, O Vento Leva, de Gabriel Mascaro (Pernambuco)
Melhor Montagem: Sobre o Abismo, de André Brasil (Minas Gerais)
Melhor Imagem: Porcos Raivosos, de Isabel Penoni e Leonardo Sette (Pernambuco)
Melhor filme: Sobre o Abismo, de André Brasil (Minas Gerais)

domingo, 18 de novembro de 2012

Épico de David Lean restaurado encerra a V Janela




O V Janela Internacional de Cinema do Recife chega ao final nesse domingo 18/11 com sessão para curtas premiados no Cinema da Fundação e um programa selecionado de curtas do Festival de Cannes antecedendo a ultima sessão do Clássicos do Janela no Cinema São Luiz com o épico de 1962 LAWRENCE DA ARÁBIA, restaurado e exibido em Digital. Filme tem quase 4 horas de duração e será exibido em duas partes, com pequeno intervalo, a partir de 18h.

CINEMA DA FUNDAÇÃO

14h00 – CINECLUBE DISSENSO (Programa 3) - FLOR DE ABRIL, de Cícero Filho
18h00 – Sessão de Curtas Brasileiros e Internacionais Premiados

CINEMA SÃO LUIZ

16h00 - QUINZENA 1 (Programa de Curtas Festival de Cannes)
18h00 - LAWRENCE DA ARÁBIA, de David Lean (EUA, 1962)

sábado, 17 de novembro de 2012

Sete longas no penúltimo dia do V Janela

Programação dos últimos dias do V Janela concentra a exibição de sete longas metragens durante este sábado 17/11. A partir de 14h no Cinema da Fundação, o Cineclube Dissenso começa o programa especial do diretor Cícero Filho com AI QUE VIDA, seguida de rara chance de rever um filme do russo Andrei Tarkovsky no cinema, O SACRIFÍCIO (1986) exibido em cópia nova 35 mm e o inédito drama NO do chileno Pablo Larrain (de Tony Manero), sobre momentos cruciais da ditadura Pinochet, estrelado por Gael Garcia Bernal.




No Cinema São Luiz, uma maratona de longas a partir de 16h. Abrindo com dois filmes do Panorama Alemão (O PESO DA CULPA foi premiado na Mostra SP com melhor ator para o jovem protagonista Edin Hasanovic), seguido de sessão para o documentário pernambucano DOMÉSTICA, de Gabriel Mascaro (de Um Lugar ao Sol e Avenida Brasília Formosa) e encerrando com mais uma sessão do Clássicos do Janela que deverá movimentar a noite da Rua da Aurora, no centro da cidade, com TAXI DRIVER (1976) de Martin Scorsese, com Robert De Niro, Jodie Foster, Cybill Shepherd e Harvey Keitel em cópia restaurada exibida em Digital.




CINEMA DA FUNDAÇÃO

14h00 – CINECLUBE DISSENSO (Programa 2) - AI QUE VIDA, de Cícero Filho

16h00 - O SACRIFÍCIO, de Andrei Tarkovski (França, Suécia, 1986)

19h00 - NO, de Pablo Larraín (Chile, 2012)

CINEMA SÃO LUIZ

16h00 - O PESO DA CULPA (Panorama Alemão) de Lars-Gunnar Lotz (Alemanha, 2012)

18h00 - ALÉM DO HORIZONTE (Panorama Alemão) de Pola Beck (Alemanha, 2012)

20h00 - DOMÉSTICA de Gabriel Mascaro (Brasil, PE, 2012)

22h00 - TAXI DRIVER de Martin Scorsese (EUA/Inglaterra, 1976)


sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Sexta-feira tem Tubarão no Cinema São Luiz



O V Janela Internacional de Cinema do Recife encerra sua programação nesse final de semana, começando por uma sexta-feira de programação intensa, culminando na exibição já histórica de TUBARÃO (Jaws, 1975) de Steven Spielberg. Filme causou terror na década de 70 e, quase 40 anos depois, ironicamente volta a ser exibido na cidade que hoje é, de fato, aterrorizada por ataques de tubarões nas suas praias urbanas, resultado de um desequilíbrio ambiental ao longo dos anos, com a construção do Porto de Suape. A vida imita a arte? A situação é tão crítica - um tubarão chegou a ser capturado no centro da cidade, no rio Capibaribe - que essa exibição hoje à noite (provavelmente para um cinema de 1.000 lugares lotado) terá em frente ao Cinema São Luiz um protesto de moradores do Recife (surfistas especialmente), exigindo atenção e ações do governo para reverter o desastre ambiental que infestou as nossas praias com as mandíbulas assassinas. Confira a programação completa dessa sexta-feira 16 de novembro:

SEXTA, 16 DE NOVEMBRO

CINEMA SÃO LUIZ

15h30 - NA NEBLINA de Sergei Loznitsa (Russia, 2012)

18h00 –  IR, VOLTAR E CHEGAR (Programa Curtas Brasileiros) - O Inverno de Željka, de Gustavo Beck (RJ); Eu Nunca Deveria Ter Voltado, de Eduardo Morotó, Marcelo Martins Santiago e Renan Brandão; Ikó-Eté, de Torquato Joel (PB); Desterro, de Marília Hughes e Cláudio Marques (BA) e Meu Amigo Mineiro, de Victor Furtado e Gabriel Martins (CE).

20h00  - ELES VOLTAM, de Marcelo Lordello (Brasil, PE, 2012), Melhor Longa Metragem de Ficção no 45º Festival de Cinema de Brasilia.

22h30 - TUBARÃO, de Steven Spielberg (EUA, 1975).

CINEMA DA FUNDAÇÃO

17h00 - QUINZENA 2 (Programa Quinzena dos realizadores Festival de Cannes) - Jeff, de Moto, de Marie-Eve Juste (Canadá); Retrato da Memória, de Marcin Bortkiewicz (Polônia); Wrong Cops, de Quentin Dupieux  (França) e A Maldição, de Fyzal Boulifa (Reino Unido/Marrocos).

19h00 –  NOSSOS PAIS E MÃES (Programa Curtas Internacionais) - Chefu, de Adrian Sitaru (Romênia); Dag, de Tamar van den Dop (Holanda); Ina Litovski, de Anaïs  Barbeau-Lavalette, André Turpin (Canadá) e Les Cheveux Courts, Ronde, Petite Taille, de Robin Harsch (Suíça).

21h00 – O QUE ARDE CURA (Programa Curtas Internacionais) - O Que Arde Cura, de João Rui Guerra da Mata (Portugal): Jantar em Família, de Stefan Constantinescu (Suécia); Rodri, de Franco Lolli (França) e Sacha L’ours, de Henri Desaunay (França).

sábado, 10 de novembro de 2012

Segundo dia, cinema poderoso no Janela


Já no seu segundo dia, o Janela oferece uma programação poderosa de puro cinema, começando logo ás 14h no Cinema São Luiz com a exibição única de TABU (Portugal, 2012) de Miguel Gomes, um dos filmes mais elogiados e consagrados pela crítica esse ano, com passagem pelos principais festivais e mostras recentes (Berlim, Fest Rio, Mostra SP). Sinopse: Uma idosa, sua empregada e uma vizinha dividem o andar num prédio em Lisboa. Quando a primeira morre, as outras duas descobrem um episódio de seu passado, uma história de amor e crime passada na África. Miguel Gomes, 40 anos, é o realizador dos longas A Cara Que Mereces (2004) e o excelente Aquele Querido Mês de Agosto (Top Ten Kinemail 2008), exibidos no Cinema da Fundação. TABU faz parte de programação especial do Cineclube Dissenso na V Janela de Cinema.


O Cinema da Fundação começa atividades do Janela neste sábado, com dois excelentes programas internacionais de curtas: 01. SOMOS TODOS CRIATURAS DE DEUS, às 18h30, um programa de 5 curtas somando 78 minutos, onde mais uma vez o destaque fica por conta do cinema português, com Barba, de Paulo Abreu, e Manhã de Santo Antônio (foto acima), de João Pedro Rodrigues, certamente o melhor curta dos que assisti em curadoria, entre tantos de alto nível. Imperdível, anote e agende-se, programa passa hoje e terá reprise quinta 15 (feriado) também no Cinema da Fundação, às 20h30. 02. ENCAIXE GOSTOSO, às 20h15, com 75 minutos, nas palavras de organizador Kleber Mendonça Filho, "seis filmes com sexo, sobre sexo, tesão e genitália juntaram-se na seleção e formaram esse programa, uma das boas safadeza esse ano na mostra internacional. os filmes são ótimos." Entre os curtas, Os Robôs, micro documentário de 4 minutos sobre Mike Sullivan, realizador de um filme em stop-motion de sexo com robôs; The Dickslap, muito bem traduzido aqui como Surra de Peia, sobre rapaz que trabalha em videolocadora e é inseguro a respeito do seu pau; e o curta que promete escandalizar até os cinéfilos mais cabeças e moderninhos, Fourplay: Tampa. Fourplay é uma série de curtas sobre sexo, produzidos entre outros, por Michael Stipe (do R.E.M.) A Janela exibiu antes Fourplay: San Francisco. Em Tampa, um jovem latino tímido vai passear no shopping para tentar uma aventura gay no banheiro público. Nervoso, ele começa a delirar, soltando a imaginação em cenas hilárias, que podem deixar alguns espectadores horrorizados. O sexo "explícito" é deliciosamente falso. Divirta-se!


Por fim, a noite no Cinema São Luiz encerra-se gloriosamente às 22h com a abertura do Clássicos do Janela exibindo PSICOSE (1960) de Alfred Hitchcock, um dos maiores filmes do mestre inglês e da história do cinema. Tive o prazer de assistir no cinema em 1980 (comemoração de 20 anos do filme) em 35 mm no extinto Cinema Astor. Agora, mais de 50 anos depois de sua realização, a Janela de Cinema nos oferece uma cópia restaurada em cristalino Digital DCP. Sinopse: Secretária (Janet Leigh) rouba 40 mil dólares para se casar. Durante a fuga, erra o caminho e chega num velho motel, onde é amavelmente atendida pelo dono (Anthony Perkins). Hitchcock, recomenda: "Assista desde o início e não conte o seu final a ninguém." Ajoelha e reza, será lindo!

Continue acompanhando aqui no Blog do Kinemail destaques da programação diária do V Janela Internacional de Cinema do Recife. Boas sessões!

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Boa Sorte, Meu Amor abre a V Janela do Recife



O filme pernambucano Boa Sorte, Meu Amor, primeiro longa-metragem de Daniel Aragão, estreia no Recife no V Janela Internacional de Cinema, abrindo oficialmente o evento nessa sexta 09 de novembro no Cinema São Luiz. Com prêmios de melhor som e melhor direção no 45º Festival de Brasília, o filme teve sua Premiere mundial em agosto, no 65º Festival de Locarno, na Suíça, onde recebeu o prêmio de Melhor Filme atribuído pelo Júri Jovem. Em outubro, participou do Festival Nouveau Cinema, em Montreal (Canadá), da 36ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e do Panorama Internacional Coisa de Cinema, em Salvador. produção da Orquestra Cinema Estúdios, em coprodução com REC Produtores Associados, SET Produções Audiovisuais e Cicatriz Filmes e com patrocínio do Funcultura de PE, foi realizado com baixo orçamento, mesmo para os padrões locais.

Daniel Aragão realizou antes os curtas Uma Vida e Outra, Solidão Pública e Não me Deixe em Casa, premiados e com passagens por festivais importantes como Hamburgo, Clermont-Ferrand, É Tudo verdade e Festival de Documentários de Amsterdam). Estrelam o filme a atriz carioca Christiana Ubach (telenovela Malhação) e o paulista Vinicius Zinn (A Casa de Alice e minissérie televisiva Alice). No elenco, Maeve Jinkings (Falsa Loura, O Som ao Redor) e participações ilustres como a do cantor e compositor mineiro Marku Ribas (ícone da música brasileira dos anos 70) e do ator, produtor e diretor de pornochanchadas dos anos 80, Carlo Mossy (que recebeu uma menção especial por parte do júri do Festival de Brasília). Realizado em preto e branco em Cinemascope (direção de fotografia de Pedro Sotero), o roteiro é assinado pelo próprio Daniel Aragão, em parceria com Gregório Graziosi, cineasta paulista com carreira internacional em curtas, e o pernambucano Luiz Otávio Pereira.

Após a exibição, acontecerá a festa de abertura Boa Sorte, na cobertura do Edifício JK, a antiga sede do INSS na Avenida Dantas Barreto, a partir de 23h, ainda com ingressos disponíveis na hora, na bilheteria. Entre os DJs que só tocarão discos de vinil, está o diretor Daniel Aragão.

CINEMA SÃO LUIZ

18h – Panorama Alemao, 131’ O PERDÃO (Gnade) longa de Matthias Glasner, 131 min
21h30 – Sessão oficial de Abertura - BOA SORTE, MEU AMOR longa de Daniel Aragão, 95 min

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Dicas de cinéfilo no V Janela de Cinema do Recife



Depois de tanta gente me perguntando "o que ver no V Janela Internacional de Cinema do Recife", resolvi indicar algumas coisas. Tirando o Panorama Alemão, do qual não conheço quase nada, e a mostra Clássicos do Janela, onde todos os filmes são absolutamente imperdíveis, juntei aqui nove dicas de sessões que me interessam bastante.

Primeiro, devida atenção à três longas de realizadores brasileiros, estreantes em longa metragem, mas com carreira sólida e aclamada em curtas. Daqui de PE, Marcelo Lordello traz o seu Eles Voltam, premiado em Brasília, para a primeira exibição na terra natal. Também não percam O Que se Move, de Caetano Gotardo, e Esse Amor Que Nos Consome, de Allan Ribeiro. Veteranos no Janela, os dois realizadores falam sobre maneiras muito particulares de amar.

De Portugal, que cada vez mais se firma como uma grande potência do cinema contemporâneo, vem três filmes que devem render ótimas sessões. Tabu, longa de Miguel Gomes, que conquistou crítica e público com seus trabalhos anteiores, A Cara que Mereces e Aquele Querido Mês de Agosto, tem arrebatado platéias mundo afora. Também é bom ficar atento aos curtas Rafa, de João Salaviza, e Manhã de Santo Antônio, de João Pedro Rodrigues.

Falando em curtas, outro para não se perder é Fourplay: Tampa, de Kyle Henry. Fourplay é uma série de curtas sobre sexualidade, e Tampa promete chocar o público. Dos brasileiros, indico Dizem que os Cães Veem Coisas, de Guto Parente, e O Duplo, de Juliana Rojas. Parente faz parte do coletivo Alumbramento, e já fez trabalho memoráveis como Flash Happy Society e Os Monstros. Rojas é curta-metragista multi-premiada, e fez, junto com Marco Dutra o longa Trabalhar Cansa, um dos grandes filmes brasileiros do ano passado.

Por Felipe André |  f_andre2@hotmail.com

Serviço:

Eles Voltam - Sexta 16, 20h, São Luiz
O Que Se Move - Segunda 12, 20h, São Luiz
Esse Amor Que Nos Consome - Quinta 15, 19h30, São Luiz

Tabu - Sábado 10, 14h, São Luiz
Rafa - Domingo 11, 15h, Fundaj / Quinta 15, 19h, Fundaj
Manhã de Santo António - Sábado 10, 18h30, Fundaj / Quinta 15, 20h30, Fundaj

Fourplay: Tampa - Sábado 10, 20h, Fundaj / Quarta 14, 16h45, São Luiz
Dizem Que Os Cães Veem Coisas - Terça 13, 18h, São Luiz / Quarta 14, 17h, São Luiz
O Duplo - Segunda 12, 17h, Fundaj / Quarta 14, 16h45, São Luiz

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Listão dos filmes vistos na 36ª Mostra SP

Claudia Cardinale, convidada da Mostra SP, em Era Uma Vez no Oeste (1968) de Sergio Leone

A Mostra SP continua, encerrando nessa sexta 02/nov com a exibição do clássico mudo alemão NOSFERATU, com orquestra e coro ao vivo no Parque do Ibirapuera, a partir de 20h, e segue ainda por mais uma semana, com reprises de filmes até a quinta 08/nov. Um belo momento nessa quinta 01/nov foi o encerramento das sessões ao ar livre no vão do MASP, na Avenida Paulista. Vi por acaso os momentos finais de AS CANÇÕES DE AMOR de Christophe Honoré, quando passava a pé vindo da sessão de LA NOCHE DE ENFRENTE de Raul Ruiz no Reserva Cultural, indo para o encerramento no Cinesesc com FRANKENWEENIE 3D de Tim Burton. A plateia lotada  no vão do MASP, notavelmente de pessoas mais humildes, trabalhadores, idosos e casais, em busca de uma sessão gratuita de cinema, aplaudiu calorosamente o final pouco convencional do musical romântico francês. Belo encerramento para mais um espaço de programação gratuita que a Mostra SP oferece aos cidadãos paulistas. Para ver a programação completa da repescagem da Mostra SP, confira aqui http://36.mostra.org/acontece/destaque/378585/veja-a-programacao-da-repescagem-36-mostra

Esse ano cobri sozinho a Mostra SP, minha nona edição do evento, e cheguei no quinto dia, ficando até o final. Daí que o listão fica com apenas 23 filmes vistos, contando com NOSFERATU (e talvez eu veja mais alguns na repescagem, nessa sexta e sábado). Poucos filmes foram comentados aqui, já que hoje a rede social Facebook é um espaço mais rápido e dinâmico para comentar diariamente. Seguem os filmes que vi, em ordem cronológica, com as minhas cotações:

01. O SOM AO REDOR Muito bom
02. REALITY Bom
03. ALPES Fraco
04. KEYHOLE Regular
05. A CAÇA Bom
06. HOT HOT HOT Fraco
07. ERA UMA VEZ EU, VERÔNICA Regular
08. A GLÓRIA DAS PROSTITUTAS Bom
09. APRÉS MAIS Bom
10. TUBARÃO Muito bom
11. A BELA QUE DORME Bom
12. MOSQUITA E MARI Regular
13. NA NEBLINA Bom
14. PERDER A RAZÃO Muito bom
15. O FIM DO AMOR Regular
16. ALÉM DAS MONTANHAS Ótimo
17. O GEBO E A SOMBRA Bom
18. ERA UMA VEZ NO OESTE Ótimo
19. LAWRENCE DA ARÁBIA Ótimo
20. ANTIVIRAL Regular
21. LA NOCHE DE ENFRENTE Bom
22. FRANKENWEENIE 3D Regular

Até ano que vem!
Fernando Vasconcelos
02/11/2012

Premiação da 36ª MOSTRA SP


A Mostra SP encerrou oficialmente nesta quinta primeiro de novembro, com cerimônia de premiação. Os prêmios Itamaraty do Cinema Brasileiro - R$ 35 mil para Documentário e R$ 50 mil para Ficção - ficaram com Pernambuco, para o documentário FRANCISCO BRENNAND e o longa de ficção de Kleber Mendonça Filho, O SOM AO REDOR. Confira todos os premiados:

PRÊMIOS DO JÚRI – Novos Diretores

Melhor Filme de Ficção:
PREENCHENDO O VAZIO, de Rama Burshtein (Israel)

Menção Honrosa para Ator:
EDIN HASANOVIC, em O PESO DA CULPA, de Lars- Gunnar Lotz (Alemanha)

Melhor Filme Documentário:
WE CAME HOME, Ariana Delawari (EUA, Afeganistão)

PRÊMIOS DA CRÍTICA

Melhor Filme:
A BELA QUE DORME, Marco Bellocchio (Itália, França)
Kinemail viu: BOM

Menção Honrosa:
PERDER A RAZÃO, Joachim Lafosse (Bélgica, Luxemburgo, França, Suíça)
Kinemail viu: MUITO BOM

PRÊMIO ABRACCINE

FRANCISCO BRENNAND, Mariana Brennand Fortes (Brasil)

PRÊMIO DO PÚBLICO

Melhor Filme de Ficção Brasileiro:
COLEGAS, de Marcelo Galvão (Brasil, Argentina)

Melhor Filme de Ficção Estrangeiro:
NO, de Pablo Larraín (Chile, França, Estados Unidos)

Melhor Documentário Brasileiro:
SEMENTES DO NOSSO QUINTAL, de Fernanda Heinz Figueiredo

Melhor Documentário Estrangeiro:
A COPA ESQUECIDA, de Lorenzo Garzella e Filippo Macelloni (Itália)

PRÊMIO DA JUVENTUDE

Melhor Filme Brasileiro:
COLEGAS, de Marcelo Galvão (Brasil)

Melhor Filme Estrangeiro:
TENHO 11 ANOS, de Genevieve Bailey (Austrália, Marrocos, Bulgária, Holanda, Inglaterra,
EUA, Suécia, China, Índia, República Tcheca, França, Tailândia, Japão, Alemanha)

PRÊMIO ITAMARATY CINEMA BRASILEIRO

Melhor Documentário:
FRANCISCO BRENNAND, de Mariana Brennand Fortes

Melhor Ficção:
O SOM AO REDOR, de Kleber Mendonça Filho (Brasil)
Kinemail viu: MUITO BOM


segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Mais um surreal vintage de Guy Maddin


Cineasta experimental canadense pouco conhecido pelo grande público, Guy Maddin tem passagem privilegiada na Mostra SP, onde já teve uma retrospectiva de sua obra completa e chegou ao auge de exposição com  Brand Upon The Brain! (2007), exibido com narração ao vivo de atores paulistas em evento especial na Mostra. O trabalho de Maddin é marcado pela linguagem do cinema mudo, que ele mimetiza à perfeição, com muita influência do surrealismo, basicamente realizando "cinema como sonho", com resultados interessantes, mas não muito mais que uma experiência estética. Como traço moderno, seus filmes apresentam muita nudez, masculina principalmente, de rapazes e garotas de beleza angelical. O recente My Winnipeg tinha traços autobiográficos fortes, sobre a sua cidade natal. Neste novo KEYHOLE (buraco da fechadura), temos uma ficção sobre segredos de uma família (que chega a lembrar o universo de Nelson Rodrigues) com muita música, flashbacks e narração em off, sobre Ulysses Pick, um gangster que volta para casa depois de uma longa ausência para reencontrar seus filhos e esposa, e fará uma verdadeira odisséia pelos cômodos de sua fantasmagórica casa. Cinema nada convencional, quase como um longo videoclipe surreal, é filme que só encontra mesmo espaço em festivais e mostras e, para mim que já vi antes vários filmes de Maddin na Mostra SP, a experiência tende a ser um tanto cansativa, repetitiva. Para quem não conhece, é uma rara oportunidade de ver na tela grande. Como curiosidade, KEYHOLE conta com famosos no elenco: Isabella Rosellini, Jason Patric e Udo Kier.

Por Fernando Vasconcelos
Visto no Cine SABESP em 25/10/12
Cotação: REGULAR

domingo, 28 de outubro de 2012

Reality e o incrível Aniello Arena


Depois de realizar um dos melhores filmes recentes sobre a máfia italiana (Gomorra), Matteo Garrone venceu o grande prêmio do júri em Cannes 2012 com REALITY, agora lançando o seu olhar crítico sobre a televisão, ao contar a estória de Luciano, um homem simples de Nápoles que vive de vender peixe na feira e de pequenos trambiques, e acaba tentando a sorte no Grande Fratello, o Big Brother da Itália, depois de ceder a insistência da sua esposa e filhas. Achando-se bem sucedido na primeira entrevista, Luciano entrará num delírio paranoico felliniano, certo de que será escolhido para o programa e sairá vencedor. Com bom humor da tradicional comédia italiana e virtuosos passeios aéreos de câmera, Garrone filma com a mesma economia de planos em largo CinemaScope de Gomorra, e a jornada de Luciano fica cada vez mais doentia, sombria e deprimente, mostrando todo o vazio e ilusão da cultura das celebridades midiáticas contemporâneas. Impressiona a atuação de Aniello Arena. Descoberto por Garrone num grupo de teatro de detentos, Arena cumpre pena atualmente como matador da máfia italiana, envolvido em vários homicídios. Confessando-se um novo homem, depois que descobriu o teatro na prisão, aos 44 anos ele transformou-se num verdadeiro astro em Cannes, recebendo merecidos elogios por sua impressionante atuação.

Por Fernando Vasconcelos
Visto no Cine SABESP em 24/10/12
Cotação: BOM

sábado, 27 de outubro de 2012

Cinema grego para hipsters



Em 2009 o filme Dente Canino do diretor grego estreante Yorgos Lanthimos causou sensação (e também incômodo) nos festivais de cinema mundo afora, e foi exibido também na Mostra SP. Contava uma história bizarra sobre uma família que se isolava do mundo, dado que os pais queriam afastar os três filhos da influência da mídia no mundo atual. Eles decidem criar suas próprias regras sociais e o diretor orquestra um jogo de provocações com a plateia. Cenas de violência, sexo explícito, incesto, violência com animais etc eram jogadas como pedradas nos espectadores. Divertido, provocador. O mais curioso é que recebeu uma indicação ao Oscar de melhor filme estrangeiro. Agora Lanthimos apresenta seu segundo longa, destinado ao mesmo percurso entre mostras e festivais. ALPES também propõe um jogo, temos uma equipe que trabalha oferecendo serviços de "substituição" de familiares mortos, seguindo algumas regras bizarras. Está tudo lá de novo: atuações catatônicas, longas tomadas estáticas, reações imprevistas, sexo estranho, violência repentina. Dessa vez, o tom é mais contido, mas já não causa sensação, é até previsível. Hipsters de festival de cinema devem estar procurando uma outra novidade para cultuar, ainda escondida nesta Mostra SP.


Por Fernando Vasconcelos
Visto no Cine SABESP em 25/10/12
Cotação: FRACO



Cinema por todos os lados


"Cinema por todos os lados". Não, não estou falando do complexo e generoso painel cinematográfico que é a Mostra SP. Mas da vontade de expressar a sensação de (finalmente) assistir O SOM AO REDOR, esse filme brasileiro tão comentado, festejado e premiado pelo mundo. Da impactante abertura, com tema musical tenso acompanhando fotos antigas em preto e branco da tradição tão pernambucana de uma sociedade moldada em torno do engenho da cana-de-açúcar, passando para um passeio de câmera acompanhando uma garota de patins num playground de um edifício-prisão, já sentimos uma complexidade rara no cinema nacional pelo uso cirúrgico, planejado, bem pensado, dos recursos audiovisuais, da arquitetura de imagens em largo CinemaScope, da montagem que entende que cinema é ritmo, música. Tem cinema por todos os lados aqui. Principalmente onde ele mais está em falta hoje em dia: no conteúdo, no casamento da forma com o sentido. O SOM AO REDOR assim, é cinema pleno, superlativo, onde o discurso político nunca é planfetário, porque o filme prefere a sutileza, o olhar humano, até mesmo poético, que não precisa gritar o que está errado nesse mundo, porque simplesmente já está tudo lá, registrado diante dos nossos olhos. A precisão técnica é tão certeira, que o filme tem uma direção de fotografia impecável, daquelas que em nenhum momento você pensará "que fotografia belíssima!", porque não é apenas estética. Não por acaso, o primeiro prêmio internacional do filme, em Roterdã, destacava justamente "evocar uma atmosfera de paranoia e perigo através do uso ambicioso de desenho de som e cinematografia".

Embora realizado a partir de um olhar absolutamente pessoal, em grande parte autobiográfico, Kleber Mendonça Filho fala de um mal-estar social urgente da cidade do Recife, mas que pode ser perfeitamente compreendido universalmente (daí a espetacular boa recepção do filme mundo afora), porque é exposto através de sensações, emoções, de puro cinema. O SOM AO REDOR, embora difícil de ser enquadrado em "gêneros", tem terror, suspense, drama e até comédia, passeando confortavelmente na observação de um punhado de personagens que moram numa mesma rua de um bairro que é uma selva urbana grotesca à beira-mar, ironicamente um mar infestado de tubarões. Temos uma dona de casa, seguranças e porteiros, um rapaz corretor de imóveis, seu primo problemático, sua namorada, domésticas e babás, algumas crianças. E um cão que late eternamente. E um senhor, que é o "dono da rua", que caberia bem num filme de gangsters. A relação entre eles é tensa, nunca se sabe muito bem por quais motivos, narrada de forma fragmentada, em três blocos que somam mais de duas horas de filme. Embora alguns deles não tenham muita importância na resolução final do roteiro, são todos claramente de interesse do diretor, nada é mostrado em vão. Bem... O SOM AO REDOR é o tipo do filme que você pode falar empolgadamente por horas e horas, mas que o melhor mesmo é assistir.

Jornalista, cinéfilo e com uma carreira de direção de cinema construída cuidadosamente ao longo de poucos curtas metragens e documentários, Kleber Mendonça Filho cometeu uma daquelas estreias em longa que já é tópico obrigatório na  história do cinema brasileiro contemporâneo. É possível identificar influências de Michael Haneke, Lars von Trier (na abertura), o filme dialoga com o cinema nacional de Carlos Reichenbach (o olhar sensual sobre operárias) e Sergio Bianchi (o olhar político e, se tem algum filme que "pareça" um pouco com o de Kleber, eu citaria o recente Os Inquilinos), mas há também Roman Polanski, David Cronenberg e, na inspirada tapeçaria coral de personagens, o grande Robert Altman (Nashville e Short Cuts, com seus finais perturbadores me vieram à mente). Mas são apenas influências muito bem-vindas da formação cinéfila e, assim como Quentin Tarantino, Kleber Mendonça Filho reprocessa toda essa influência num trabalho completamente original e, dentro do possível, despretensioso, não isento de pequenas imperfeições, mas necessário, muito bem resolvido como um todo. O SOM AO REDOR tem estreia prevista para 04 de janeiro de 2013 em todo o Brasil.

Por Fernando Vasconcelos
Visto na Cinemateca SP em 24/10/12
Cotação: MUITO BOM

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Mostra SP Gratuita no vão livre do MASP


A 36ª Mostra SP homenageia os 80 anos do cineasta e produtor Roberto Farias, com a exibição da trilogia musical estrelada por Roberto Carlos. A partir de segunda 22/10, o público pode conferir uma programação especialmente preparada pela Cinemateca Brasileira e Mostra Internacional de Cinema, para as projeções no Vão Livre do MASP.  Roberto Carlos em Ritmo de Aventura (foto acima), Roberto Carlos e o Diamante Cor de Rosa e Roberto Carlos a 300km por hora, são os filmes a serem exibidos em homenagem à Roberto Farias. É Simonal, de Domingos Oliveira; Viva São João!, de Andrucha Waddington; O Homem Que Engarrafava Nuvens, de Lirio Ferreira; Shine a Light - Rolling Stones, de Martin Scorcese e Canções de Amor (foto abaixo), de Christophe Honoré, completam a programação que será iniciada nesta segunda 22 com O Palhaço, longa de de Selton Mello.


O vão livre do MASP, na Avenida Paulista, é um grande espaço de 74 metros de comprimento, um dos maiores do mundo em seu gênero arquitetônico, e sempre abrigou manifestações públicas paulistanas. As sessões gratuitas começam sempre às 19h30. Confira a programação:

Segunda 22/10, 19h30
O PALHAÇO
de Selton Mello 2011 1h30min

Terça 23/10, 19h30
ROBERTO CARLOS EM RITMO DE AVENTURA
de Roberto Farias 1968 1h38min

Quarta 24/10, 19h30
ROBERTO CARLOS E O DIAMANTE COR DE ROSA
de Roberto Farias 1970 1h34min

Quinta 25/10, 19h30
ROBERTO CARLOS A 300 KM POR HORA
de Roberto Farias 1971 1h39min 

Sexta 26/10, 19h30
É SIMONAL 
de Domingos Oliveira 1970 1h35min

Segunda 29/10, 19h30
O HOMEM QUE ENGARRAFAVA NUVENS
de Lírio Ferreira 2009 1h46min

Terça 30/10, 19h30
VIVA SÃO JOÃO!
de Andrucha Waddington 2002 1h22min

Quarta 31/10, 19h30
SHINE A LIGHT - ROLLING STONES
de Martin Scorsese 2008 2h02min

Quinta 1º/11, 19h30
CANÇÕES DE AMOR
de Christophe Honoré 2010 1h40min 

sábado, 20 de outubro de 2012

A linhagem sagrada de Andrei Tarkovsky (1932 - 1986)

Por Josias Teófilo josiasteofilo@gmail.com
Publicado na Revista Continente, edição de abril de 2012



O russo Andrei Tarkovsky entrou para a história do cinema com apenas sete longas-metragens, cinco deles feitos na União Soviética e os outros dois na Itália e na Suécia, na década de 1980, já no exílio. Seu legado, entretanto, não é exclusivamente cinematográfico. Seguindo uma tradição russa de artistas que são também teóricos da arte – entre o final do século 19 e o começo do século 20, Tolstoi escrevera seu polêmico ensaio O que é a arte?, Kandinsky, o livro Do espiritual na arte, e Malevitch, junto com o poeta Maiakovsky, o Manifesto Suprematista –, Tarkovsky escreveu (“por falta de coisa melhor a fazer”, como ele dizia) um dos mais influentes e poderosos escritos teóricos sobre o cinema: o livro Esculpir o tempo.
Tarkovsky – cujo pai, Arseni, era poeta – nasceu num pequeno vilarejo a cerca de 350 quilômetros de Moscou, em abril do ano de 1932. A família com esse nome surgiu há aproximadamente sete séculos, e,
até meados do século 19, o Principado Tarkovsky existiu na região do Cáucaso – sua linhagem espiritual, contudo, parece ser muito mais antiga do que a genealógica.

Depois de realizar o seu primeiro longa-metragem, A infância de Ivan (1962), que ganhou o Leão de Ouro no Festival de Veneza, concorrendo com diretores como Kubrick, Godard e Pasolini, Tarkovsky partiu para um ambicioso projeto: retratar uma figura central da cultura e da ortodoxia russa, Andrei Rublev, pintor de ícones do século 15. A falta de informações existentes sobre a vida de Rublev, em vez de uma dificuldade, foi uma grande oportunidade para o seu gênio criador. O resultado foi um filme de 3 horas e 20 minutos, em preto e branco, com exceção da cena final, colorida, em que surgem os ícones dourados pintados por Rublev.

Ao fazer um épico sobre o pintor de ícones medieval, que incorpora uma tradição pictórica que vem desde Bizâncio, Tarkovsky não se liga a uma tradição de arte religiosa de inspiração cristã? O fato é que ele viveu num contexto político em que esses temas religiosos, se não proibidos, eram mau vistos pelas autoridades soviéticas, que então seguiam a cartilha marxista-leninista. Rublev, contudo, era uma símbolo internacional da arte russa, e o quinto centenário do seu nascimento ajudou Tarkovsky a aprovar ideológica e financeiramente o seu projeto.

Depois de pronto, entretanto, o filme foi apresentado ao presidente soviético Leonid Brejnev e, em seguida, censurado, sob alegação de passar uma imagem negativa da história da Rússia. Apesar da censura, o diretor do Festival de Cannes já havia visto a película e, junto à direção do Festival de Veneza, ameaçou não incluir mais nenhum filme soviético, caso Rublev não fosse permitido. O filme não só participou em Cannes como ganhou o prêmio da crítica internacional, o que possibilitou a sua exibição em todo o mundo.

O interesse de Tarkovsky na história residiu no profundo paradoxo entre a obra de Rublev, reconhecida universalmente pela serenidade e harmonia, e o contexto social em que ele viveu, de guerras sangrentas, fome e morte – tudo que foi retratado no filme e que desagradou as autoridades soviéticas. Terá Tarkovsky, homem de interesses metafísico-religiosos, vivendo em plena Guerra Fria na União Soviética, se identificado com a situação paradoxal de Rublev? A questão é mais ampla do que essa. Parece haver uma afinidade estética entre ele e o pintor medieval, e, mais do que estética, uma afinidade espiritual entre a sua arte imagética e a tradição iconográfica.


 Andrei Rublev (Andrei Rublyov, URSS,1966)

ÍDOLO E ÍCONE

No livro O ícone - Uma escola do olhar, Jean-Yves Leloup faz uma distinção entre ídolo e ícone. O primeiro seria qualquer forma de representação religiosa que prende o olhar em si mesmo, pelas formas, cores ou movimentos que chamam a atenção, provocando emoções. O ícone, ao contrário, não tem movimento nem profundidade, as cores e formas obedecem a padrões tradicionais. Nele, a transcendência é o fator essencial, a intenção é mostrar o “Invisível no visível, Presença na aparência”. Mas como relacionar uma arte tão antiga como a iconografia com uma tão nova como o cinema? Tarkovsky criticava tanto o modelo de criação cinematográfica que coloca a emoção como objetivo primordial, a saber, o modelo hollywoodiano de cinema comercial, como o modelo que coloca o intelecto no centro dessa atividade – os chamados filmes de arte.

Ele se mostrou profundamente decepcionado, por exemplo, com o que viu, nos festivais de Cannes dos quais participou, de diretores como Fellini, Polanski, Trier etc. Podemos dizer que o cinema que Tarkovsky rechaça seria como o ídolo de que fala Leloup? Para ele, “um artista sem fé é como um pintor que houvesse nascido cego”: a “função” do seu cinema é, portanto, essencialmente espiritual. Ele se recusava a usar cores vivas nos seus filmes (“Se eu usar cores muito marcantes o filme se caracterizará por elas”), repelia a expressividade excessiva dos atores (o recém falecido Erland Josepson, ator preferido de Bergman, afirmou certa vez, em entrevista, a imensa dificuldade em interpretar como Tarkovsky queria: sem emoção, de modo que o espectador pudesse livremente interpretar o que estivesse vendo). Além disso, ele dispensava o uso da música como muleta para produzir efeitos pré-definidos e, o que foi motivo da sua principal divergência com Eisenstein, negava os excessos da montagem.

Enfim, Tarkovsky buscava a pureza, podemos dizer até infantil, do olhar cinematográfico, que aspira a um hieróglifo da verdade – o mesmo poderia ser dito do ícone e sua tradição, com os quais Tarkovsky, desde muito cedo, teve contato em seu país natal. As semelhanças são profundas e podem indicar uma ancestralidade espiritual, coisa estranha a uma arte nova como o cinema, mas que é muito rica para a compreensão do fenômeno artístico como um fenômeno que transcende o tempo e o espaço.
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Josias Teófilo, jornalista, é mestrando em Filosofia pela Universidade de Brasília com o tema A cumplicidade espiritual: o papel social do artista segundo Andrei Tarkovsky no filme Andrei Rublev.

Andrei Tarkóvski será o grande homenageado da 36ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Além de uma retrospectiva de seus filmes e exibição de documentários sobre o cineasta feito por outros diretores, a Mostra terá a exposição Luz Instantânea: Polaroides de Tarkóvski, com fotos feitas pelo diretor na Rússia e na Itália entre 1979 e 1984, em cartaz no MASP - Museu de Arte de São Paulo a partir de 16 de outubro e lançamento em parceria com a Cosac Naify, do livro Tarkóvski – Instantâneos, com 60 fotos polaroides feitas pelo diretor.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

36ª Mostra SP começa nessa sexta 19 de outubro


Nessa sexta-feira 19 de outubro começa mais uma Mostra Internacional SP de Cinema, em sua 36ª edição. Essa é de fato a primeira vez sem o organizador Leon Cakoff, que faleceu ano passado às vésperas do evento. Esse ano, sua esposa e fiel parceira no grandioso evento, Renata de Almeida, 47 anos, toma a frente da empreitada. Embora a Mostra SP mantenha-se saudável em público, cada vez mais lotada e comentada na mídia, Renata reforça que é sempre uma luta, com dificuldade de patrocínio e um trabalho árduo para organizar o evento. Sempre privilegiando os filmes inéditos na enorme programação, esse ano os destaques são uma retrospectiva completa da obra do russo Andrei Tarkóvski (1932-1986), complementada com exposição de seus famosos polaróides no MASP e a presença do filho do diretor em debates e lançamento do livro Tarkóvski - Instantâneos. Também fazem parte das mostras especiais a obra do japonês Minoru Shibuya (1907-1980) e do russo Sergei Loznitsa, que vai participar do evento. Loznitsa esteve presente na IV Janela Internacional de Cinema do Recife, ano passado, com documentários e seu impactante primeiro longa Minha Felicidade. Nessa Mostra, lança seu novo longa Na Neblina. Também teremos uma mostra dedicada ao jovem realizador português Miguel Gomes (Aquele Querido Mês de Agosto).

Essa edição não poderia deixar de registrar o feliz momento do cinema pernambucano. Serão exibidos O Som ao Redor, de Kleber Mendonça Filho, Boa Sorte, Meu Amor de Daniel Aragão e Era Uma Vez Eu, Verônica de Marcelo Gomes, todos premiados recentemente e inéditos nos cinemas. Além deles, a Mostra Brasil conta ainda com Lacuna, de André Lavaquial, Chamada a Cobrar, de Anne Muylaert, Jards de Erik Rocha, O Que Se Move, de Caetano Gotardo e sessão homenagem para Alma Corsária, de Carlos Reichenbach (1945-2012).




Entre os premiados recentes que terão sessões concorridas, teremos A Bela que Dorme, de Marco Bellochio, Além das Montanhas, de Cristian Mungiu (melhor roteiro em Cannes), Tabu, do português Miguel Gomes e A Parte dos Anjos, de Ken Loach (prêmio especial do júri em Cannes). Também em destaque, La Noche de Enfrente, o último filme de Raoul Ruiz (1941-2011); Antiviral, estreia na direção de Brandon Cronenberg, filho de David; O Gebo e a Sombra de Manoel de Oliveira; Reality de Matteo Garrone e Aprés Mai de Olivier Assayas. Mas como em todo ano, a maior parte da programação é formada por filmes pouco conhecidos e que, ao certo, nunca mais verão a luz de um projetor de sala de cinema no Brasil. Cabe a cada um fazer sua maratona cinéfila, descobrindo pérolas aqui e saindo irritado no meio da outra sessão acolá, para dar tempo de correr e salvar o dia com outros filmes.




Outra grande atração serão os clássicos restaurados, estão programados Era Uma Vez no Oeste de Sergio Leone; Lawrence da Arábia de David Lean; Tubarão de Steven Spielberg e La Jetée e  Nível Cinco, ambos de Chris Marker. Oficialmente, a Mostra SP encerra na quinta-feira 01 de novembro, sessão para jornalistas e convidados, com exibição da animação Frankenweenie, de Tim Burton, mas a grande festa de encerramento será a sessão gratuita especial na noite do feriado de Finados, 02 de novembro, ao ar livre no Parque do Ibirapuera para Nosferatu de F. W. Murnau, com acompanhamento ao vivo de coral e orquestra sinfônica.

Vale observar que acontecem várias sessões gratuitas. O Cine Olido, no centrão, tem sessões por apenas R$ 1,00 real; as sessões matinais, às 10h da manhã, do Festival Juventude são para estudantes, mas sempre é possível conseguir ingressos, pois costumam ser vazias; As sessões na Faculdade FAAP também são gratuitas, assim como as sessões ao ar livre com reprises de sucessos das Mostras anteriores no vão livre do MASP. No mais, é enfrentar filas e sessões esgotadas, com a imensa fauna cinéfila que invade São Paulo nesses 15 dias: tem os cinéfilos de carteirinha, os que estão atrás de ver celebridades, os hipsters de plantão, os maratonistas que querem ver 5 ou 6 filmes por dia, as madames e senhores que procuram cinema "de arte", os "cabeças" que sabem de cor os nomes dos novos diretores sul-coreanos...

Eu só chegarei em SP na quarta-feira 24, quando começarei a postar aqui comentários sobre os filmes vistos e outras coisas do dia-a-dia da Mostra SP. Até lá!

Fernando Vasconcelos | 15.10.2012

sábado, 22 de setembro de 2012

Balanço TIFF 2012


Tom Hanks com fã em um bar após première de Cloud Atlas
A foto acima, vista por mais de 15 milhões de pessoas na internet, resume bem o estado da pessoa após um festival de cinema. Levando em consideração que eu o fiz enquanto me instalava e tentava me adaptar ao modo de vida da cidade e iniciava o curso na Universidade, fiquei um pouco pior que isso. Já recuperado, posso dizer que o saldo do TIFF 2012 foi, como esperando, fantástico. Premières mundiais, cinemas inacreditáveis, filmes muito bons, outros nem tanto, projeções assombrosas de tão perfeitas, uma celebridade aqui, outra acolá. Mesmo sendo uma experiência cara e por vezes cansativa, valeu muito a pena. Infelizmente não deu pra ver muitos filmes então, ao invés do costumeiro listão que fazemos em São Paulo apoá a Mostra SP, segue a minha modesta listinha do TIFF. Com sorte, ano que vem estarei lá de novo, mais preparado para enfrentar a maratona. Obrigado por acompanhar o Kinemail Blog, em outubro tem Mostra SP com Fernando Vaconcelos! Até breve!

Listinha TIFF 2012

IMOGENE *1/2
LA NOCHE DE ENFRENTE ****
THE IMPOSSIBLE **
POST TENEBRAS LUX ***
LAURENCE ANYWAYS **
MUCH ADO ABOUT NOTHING ****
IN ANOTHER COUNTRY ***1/2
ERA UMA VEZ EU, VERÔNICA **1/2
GEBO E A SOMBRA ***
THE MASTER **

Por Filipe Marcena

Muito culto para pouco


1. Projeção em 70mm é uma coisa impressionante, que resolução. A melhor projeção digital 4K não se compara à isso. O filme, rodado no formato, ganha muito, cresce na tela. Bela experiência.

2. Estranho como hoje filmes se tornam clássicos instantâneos graças a uma boa propaganda, "Oscar buzz" e fãs que ainda nem viram a obra. Enfim, THE MASTER (2012, EUA) é praticamente uma sequência de Sangue Negro. Pelo tom, pela estética, pela vontade de falar do macro através do micro, pela opressividade, por ser protagonizado por um ator genial num papel assustador, perfeito pra ele. Paul Thomas Anderson continua a estudar as raízes da América, agora mirando no nascimento de uma religião durante o pós-guerra, inspirado pela Cientologia, no filme chamada de A Causa. Ele desafia o culto comandado por Lancaster Dodd (Phillip Seymour Hoffman) e sua esposa Peggy Dodd (Amy Adams) através do alcoólico e violento Freddie Quell (Joaquin Phoenix), um monstro que aceita ser domesticado. Por alguma razão, essa sinopse cheia de potencial não chega à muitos lugares. Falta alguma coisa em THE MASTER, talvez uma posição menos ambígua de Anderson, ou um roteiro mais enxuto e destemido. Impressão de que o filme é muito simples - às vezes simplista - para tanta pose, tanta epopéia. A favor estão as performances. Hoffman, Adams e Laura Dern estão ótimos, e só não causam maior impacto por causa da inconsistência do roteiro. Quem realmente causa impacto é Joaquin Phoenix. Na assombrosa projeção em 70mm vemos cada detalhe do seu rosto, e mesmo que não exista muita conexão emocional sua imagem causa comoção pela beleza e expressividade.

O clímax entre ele e Hoffman não funciona como deveria, mas seu close-up diz mais do que a cena inteira. Sobre a trilha, nada contra a música de Jonny Greenwood, mas Anderson precisa encontrar maneiras mais interessantes de usá-las, sem comentar o filme todo. O filme seria mais atraente se fosse mais silencioso. Triste é constatar que as ideias do filme não são tão profundas quanto aparentam. Os Dodd, assim como os seguidores da Causa, são caracterizados como lunáticos maliciosos que não sabem que o são, enquanto Freddie é um lunático assumido se esforçando para não sê-lo. Os Dodd são monocromáticos (Adams é bastante prejudicada com isso), são os mesmo do início a fim, falta substância e um arco dramático mais vertiginoso. E mesmo após a escassa crítica de Anderson à Cientologia/Causa, ele sugere que Freddie foi, de certa maneira, curado. O que THE MASTER quer afinal? Não sei, e não tenho certeza se encararia novamente a tediosa segunda metade para tentar tirar algo mais do filme. Partes muito boas não fazem um todo muito bom, e embora Anderson seja um cineasta talentoso, seria mais interessante para ele aplicar sua técnica e estética em algo mais sólido a essa altura de sua carreira. Pessoalmente, gostaria que ele fizesse algo como Embriagado de Amor de novo.

THE MASTER
Cotação: REGULAR
Visto em 21/09 no Varsity 8 (pós-festival)
Por Filipe Marcena

Estrelas nas sombras de um mestre


Fim de Festival, prêmios distribuidos, tapete vermelho recolhido, mas um pequeno grupo de estrelas de outros tempos ainda mostra porque seus nomes são lembrados nas telas do TIFF 2012. Aos incríveis e saudáveis 103 anos, Manoel de Oliveira dirige a adaptação da peça GEBO E A SOMBRA (2012, Portugal/França), de Raul Brandão. Creio que para tornar o filme mais acessível para o mercado internacional, traduziu o texto para o francês e escalou Michael Lonsdale, Claudia Cardinale e Jeanne Moreau para os papéis principais, além de seus atores-fetiche Leonor Silveira e Ricardo Trepa. O estilo de Oliveira continua o mesmo, e é com planos abertos, câmeras estáticas e longas tomadas que ele conta a história de Gebo (Lonsdale), um pobre contador de uma cidade costeira portuguesa que vive com a esposa Doroteia (Cardinale) e a nora Sofia (Silveira). Embora seja um homem de boa índole e honesto, Gebo esconde da esposa o verdadeiro paradeiro do filho João (Trepa), que saiu de casa oito anos atrás.

O segredo é a força motriz da primeira metade, fechada em diálogos e bastante claustrofóbica por se passar inteiramente numa sala de jantar (a maior parte de GEBO E A SOMBRA se passa nesse ambiente, na verdade). Eventualmente, numa bela cena, o filho pródigo retorna e verdades serão escancaradas. Algumas visitas são testemunhas (Moreau, Luis Miguel Cintra). Ao invés de "desteatralizar" a peça (como Polanski tentou no também claustrofóbico Deus da Carnificina), a mise-en-scene realça a teatralidade do texto, o que pode causar bastante impaciência para os não iniciados - muitos foram embora no meio da sessão. Acho uma escolha estética sincera, que vale o risco. Se você souber no que está entrando, pode se deliciar com os detalhes da direção do português, a aura de fenda no tempo que ele é capaz de criar, os atores fabulosos. A reviravolta do clímax é bem previsível, embora coerente. GEBO E A SOMBRA não é tão memorável quanto os mais recentes Singularidades de Uma Rapariga Loura e O Estranho Caso de Angélica, mas, ora bolas, é Manoel de Oliveira e precisa ser visto. Enquanto isso, o velhinho está produzindo seu novo filme A Igreja do Diabo, com Fernanda Montenegro e Lima Duarte. Respect.

GEBO E A SOMBRA
Cotação: BOM
Visto em 16/09 no Scotiabank Theater 11
Por Filipe Marcena

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

TIFF 2012: Vencedores


Domingo 16/09 acabou o TIFF 2012 com uma premiação feita majoritariamente pelo público. Lembrando que 10 dos vencedores do TIFF concorreram ao Oscar, e pelo menos 3 ganharam o prêmio (O Discurso do Rei, Quem Quer Ser Um Milionário? e Beleza Americana).  O vencedor do ano foi SILVER LININGS PLAYBOOK, comédia de de David O. Russell, que saiu do festival repleto de buzz para Jennifer Lawrence. O filme estreia aqui em novembro, no Brasil apenas em fevereiro. Em segundo lugar ficou ARGO, elogiado filme de Ben Affleck que entra em cartaz aqui até o fim mês e também tem lançamento garantido no Brasil. Outros vencedores incluem o thriller cômico SEVEN PSYCHOPATHS, de Martin McDonaugh (Na Mira do Chefe) e LAURENCE ANYWAYS de Xavier Dolan. Confira a lista de premiados:

BlackBerry People’s Choice Award:
Silver Linings Playbook directed by David O. Russell
Runners Up: Ben Affleck’s Argo and Eran Riklis’ Zaytoun

BlackBerry People’s Choice Documentary Award:
Artifact directed by Bartholomew Cubbins
Runners Up: Christopher Nelius & Justin McMillan’s Storm Surfers 3D and Rob Stewart’s Revolution

BlackBerry People’s Choice Midnight Madness Award:
Seven Psychopaths directed by Martin McDonagh
Runners Up: Barry Levinson’s The Bay and Don Coscarelli’s John Dies at the End

City of Toronto + Canada Goose Award for Best Canadian Feature:
Laurence Anyways directed by Xavier Dolan

Skyy Vodka Award For Best Canadian First Feature Film:
Antiviral directed by Brandon Cronenberg
(tie) Blackbird directed by Jason Buxton

FIPRESCI Prize For Special Presentations:
In the House (Dans la maison) directed by Francois Ozon

FIPRESCI Prize For Discovery Programme:
Call Girl directed by Mikael Marcimain

Best Canadian Short Film:
Keep a Modest Head directed by Deco Dawson
Honorable Mention: Mike Clattenburg’s Crackin’ Down Hard

NETPAC Award for the Best First or Second Feature:
The Land of Hope directed by Sion Sono

Festival acabou, mas ainda publico aqui em breve críticas de ELEFANTE BRANCO de Pablo Trapero, GEBO E A SOMBRA de Manoel de Oliveira e THE MASTER, de Paul Thomas Anderson.

Por Filipe Marcena

domingo, 16 de setembro de 2012

Complexo de Electra no Recife contemporâneo



O único filme brasileiro no TIFF 2012 é pernambucano, e foi aqui que aconteceu a première mundial de ERA UMA VEZ EU, VERÔNICA, com a presença de Marcelo Gomes (Cinema, Aspirina e Urubus). O filme é um dos quatro longas de ficção pernambucanos em vias de lançamento esse ano, o mais prolífico desde o ciclo do Recife. A (des) urbanização e arquitetura do Recife é o assunto mais em voga hoje na cidade, isso vem se refletindo na produção cinematográfica com muita força e o filme de Gomes é parte desse movimento. Uma pena que as ideias não sejam desenvolvidas muito bem, não só as da cidade física, mas as da história da própria Verônica. Hermila Guedes faz a personagem título e, como já provou em outras performances, funciona incrivelmente na tela, seu rosto é como um ímã. Verônica é uma médica recém-formada e efase de estágio num hospital público do Recife. Nesse meio tempo, cuida do pai doente, Francisco (W.J. Solha, de O Som ao Redor), único homem que ela ama, e mantém uma vida sexual agitada. A primeira parte do filme é muito boa, incluíndo aí uma bela orgia na introdução e ótima química entre Solha e Guedes. Todas as cenas no hospital são muito boas, fazem você desejar que o filme todo se passasse ali. Mas não se passa, e quando está fora do ambulatório e longe do pai, ERA UMA VEZ EU, VERÔNICA vai, aos poucos, travando. O ritmo às vezes é bom, às vezes irregular, dependendo de qual ângulo da história estamos olhando. O filme quer declarar algo sobre a sexualidade da personagem, mas nunca passa de uma característica reafirmada várias vezes. Ela quer se divertir sexualmente, ponto. Entendo a proposta do sexo no filme, mas por algum motivo fiquei com a impressão que as cenas de sexo são longas demais, talvez fosse melhor se o foco fosse apenas no prazer de Verônica. O personagem de João Miguel, apaixonado por ela, não acrescenta muita coisa (e o subplot do falso namoro é bem inconvincente).

Há também um excesso de música que incomoda, às vezes parece um "the best of" da música pernambucana para leigos. As boas canções de Karina Buhr, que está no filme, são prejudicadas por tocar à exaustão. O recurso do diário-gravador é o pior, sempre narrando o que estamos vendo, raramente saindo da redundância. O final é uma faca de dois gumes: por um lado é um desfecho sentimental e parcialmente satisfatório à história de Verônica e Francisco e também é a única cena que traz algum resquício de conclusão para o comentário sobre a situação urbana do Recife (é pouco, mas é algo). Já a questão relacionada ao emprego de Verônica, embora gere ação narrativa, não parece condizer ideologicamente com o resto, já que ela se afastará da cidade e das pessoas que a tornaram uma boa médica e uma pessoa próxima do verdadeiro Recife. ERA UMA VEZ EU, VERÔNICA traz um registro de uma parte da sociedade que geralmente não é explorada com honestidade pelo cinema brasileiro, a classe média, e tem qualidades interessantes enquanto "documento" de um local. Mas enquanto ficção, faltou um terceiro ato mais desenvolvido que oferecesse um desfecho mais completo e mais confiança na imagem do que na palavra.

ERA UMA VEZ EU, VERÔNICA
Cotação: REGULAR
Visto em 14/09 no Scotiabank Theater 3
Por Filipe Marcena

Cinema (quase) incidental


Embora ele trabalhe desde os anos 90, conheci o cinema do coreano Sang-soo Hong na Mostra de São Paulo do ano passado com The Day He Arrives, filme esquisito, simpático, elegante em sua repetição. Com IN ANOTHER COUNTRY (Coreia, 2012), competição Cannes 2012, Sang-soo mira num público maior, não só pela acessibilidade de sua(s) nova(s) história(s), mas também pela presença de Isabelle Huppert como protagonista. Não há complicações para "entender" o filme, embora muitos devam questionar o objetivo do estilo falso-randômico do cineasta mas, como um exercício puro de cinema, o filme é bem interessante. Conhecemos três turistas francesas, todas encarnadas por Huppert, que parece estar se divertindo bastante. Em três ciclos ligados por uma introdução que justifica a narrativa, somos apresentados a uma diretora de cinema, uma amante e uma mulher traída. O cenário é a costa coreana. Personagens se repetem, situações se repetem, algo mais forte que a verossimilhança interliga as três histórias. Adoro que Sang-soo não investe em questões espirituais ou metafísicas para justificar a narrativa - é o cinema que conecta as três francesas, de uma maneira ou de outra -, mas ainda assim elucida sobre a natureza cíclica da vida. Seu cinema continua fino, seu uso de zoom-in e zoom-out, sempre repentinos, rápidos e salientando situações-chave, é de uma precisão rara. Não sou muito fã do zoom, mas me rendo à maneira como o coreano aproveita a técnica. Ele também é um roteirista talentoso, cria personagens sólidos e curiosos, a empatia é quase imediata e é difícil esquecê-los (o salva-vidas, o casal em crise, a moça do guarda-chuva e o monge budista são pérolas). Com a presença de Huppert e a leveza da obra, IN ANOTHER COUNTRY deve fazer sucesso do circuito alternativo.

IN ANOTHER COUNTRY
Cotação: BOM
Visto em 15/09 no Scotiabank Theater 1
Por Filipe Marcena

sábado, 15 de setembro de 2012

Shakespeare Pop, by Joss Whedon


Antes de mais nada, Shakespeare já não é o texto mais fácil do mundo para uma pessoa cujo o inglês é a língua mãe, que dirá então pra mim. Dito isso, sai muito surpreso do novo filme de Joss Whedon, a adaptação da comédia MUCH ADO ABOUT NOTHING (EUA, 2012), ou Muito Barulho por Nada. Sim, Whedon é aquele homem que escreveu e dirigiu o maior sucesso de bilheteria do ano (e um dos maiores de todos os tempos) Os Vingadores. Também criou Buffy, Angel, Firefly, Serenity, co-escreveu Toy Story e brilhante O Segredo da Cabana, filme de horror ainda inédito no Brasil. Uma adaptação de Shakespeare não é exatamente o que as pessoas esperavam de Whedon, e por isso mesmo sua escolha foi genial. Trabalhando com atores  e amigos recorrentes em seus trabalhos, como Clark Gregg e Nathan Fillion, Whedon aborda o texto clássico da maneira como ele era visto em sua época: uma obra popular. Não é uma adaptação clássica, mas mantém o respeito para com Shakespeare procurando o que ele tinha de genial por baixo do cânone. E acerta em cheio. O mais impressionante é que o filme tem obviamente a marca de Whedon. Filmado em preto-e-branco, MUCH ADO ABOUT NOTHING é transposto para a contemporaneidade, focando numa família classe média e suas relações. Shakespeare foi mestre da crônica social, familiar e amorosa, e Whedon tem belos insights em sua tradução e um humor  que tanto condiz com o texto quanto agrada as plateias de hoje. Não há auto-indulgência nem auto-importância (alguém se lembra de A Tempestade de Julie Taymor?), muito menos condescendência. Whedon faz cinema popular e é bom nisso, basta ver a legião de fãs e a incrível resposta ao filme (foi aplaudido em cena aberta duas vezes, embora isso não seja um choque em se tratando de TIFF). Ao dar adeus ao academicismo (nada contra Kenneth Branagh, aliás), ele acaba de tornar Shakespeare relevante para toda uma juventude que não o conhecia bem ou tinha preconceitos, isso contando a barreira da linguagem e o fato de não ser uma obra mais popular como Romeu & Julieta. Ótimos atores, e ritmo impecável (1h47min que passam rapidinho) fazem de MUCH ADO ABOUT NOTHING um crowd-pleaser sem medo nem culpa. Muito bom ter alguém inteligente e bem humorado como Joss Whedon comandando o cinema pipoca.

MUCH ADO ABOUT NOTHING
Cotação: ÓTIMO
Visto em14/09 no Elgin Theater
Por Filipe Marcena

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Romance queer mimado


Entendo em parte o respeito que Xavier Dolan vem acumulando com o passar dos seus poucos anos de carreira. Ele é um rapaz jovem e demonstra destreza e talento ao lidar com a técnica do cinema. Seu filme de estreia  Eu Matei a Minha Mãe é bem interessante e cheio de energia e, mesmo com os problemas comuns da falta de experiência, surpreende. Mas acredito que infelizmente ainda tratam Dolan como um bibelô. A impressáo que tenho de seu segundo filme, Amores Imaginários, e esse novo, LAURENCE ANYWAYS, é de que alguém disse pra ele que ele é artista e o negócio subiu à cabeça do rapaz. Não deve ser fácil criar auto-disciplina numa situação como a de Dolan, isso é verdade. Mas cinema mimado irrita, não importa a idade. Aqui Dolan tem uma premissa interessante: casal hétero sofre uma crise quando Laurence revela que se sente mulher e passa a se vestir como uma. Potencial para discutir questões de gênero num romance incomum. O que me restou foram longas 2h30min de coisas que já vi melhor e várias cenas com jeito de propaganda de perfume (Dolan deveria considerar isso). Enquanto reflexão sobre sexualidade e gênero, LAURENCE ANYWAYS é raso, usa muitas palavras e poucas imagens. Melvil Poupaud, bom ator, está bastante masculino, a ponto de eu esquecer de que na verdade estava olhando para uma mulher, e isso me incomodou. Parece que houve um receio de chocar, um equívoco. Já enquanto romance o filme é eterno, indo e voltando por um motivo ou por outro, e Dolan preenche o vazio com belas imagens e metáforas sensoriais que se desintegram assim que passamos para a cena seguinte. O filme é basicamente sustentado por Suzanne Clément, atriz excepcional, sempre uma figura que atrais seus olhos, pela vivacidade. Há momentos muito bons, como o da sala de aula, mas pra cada um deste há momentos constrangedores, como a festa de gala sem noção, um clipe do Dolce & Gabbana enfiado no meio da história. Esteticamente, só faz sentido porque o filme é de Xavier Dolan. Nesse meio tempo, a plateia suspira de tédio e se ajeita na cadeira. Um pouco de foco e auto-controle não faz mal à ninguém.

LAURENCE ANYWAYS
Cotação: FRACO
Visto em 13/09 no Elgin Theater
Por Filipe Marcena

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Sonho/Pesadelo Punk de Reygadas


Dizer que POST TENEBRAS LUX (Chile, 2012) é um dos filmes mais estranhos já feitos, que é pretensioso, que exige paciência do espectador e que o diretor Carlos Reygadas é completamente dodói não te dará a mínima noção do que é a experiência desse filme. Na verdade, esse é o tipo de filme que me faz questionar pra que diabos serve um crítico (Império dos Sonhos fez exatamente isso, e com muita gente). É um filme pessoal feito para que experiências pessoais ocorram com ele. Em Cannes, onde ganhou o prêmio de melhor diretor, foi vaiado e destruído pela crítica. Não consigo taxar o filme de bom nem de ruim, pois é necessário questionar "a partir de quê esse filme é bom/ruim?", e existem poucas coisas parecidas com POST TENEBRAS LUX . É o filme mais fragmentado e desconexo de Reygadas, e foi bom escutar a recomendação da atriz Natalia Acevedo: "Procurem sentir o filme ao invés de entendê-lo". Acredite, isso te poupa um bom esforço desnecessário. Cinema é sonho, e depois de La Noche de Enfrente, um filme sonhado, mas de fundações mais sólidas e claras, foi tranquilo encarar as duas horas de simbolismo, fotografia histericamente bela e imagens inesquecíveis. Classificaria esse filme como o anti-A Árvore da Vida. Lembrou-me bastante o filme do Terrence Malick, só que ao avesso, sem os excessos de mensagem edificante metafórica. É um filme punk. Tem a história de uma família cujo pai tem surtos de violência, mas esse é apenas o fio de storyine mais óbvio. Um time de futebol inglês se prepara pra um jogo, os homens de uma cidade mexicana se reunem para falar sobre seus problemas e defeitos, pai e mãe visitam uma esquisita sauna francesa. Há algo de mítico no filme, com a relação que os homens têm com a natureza (Pã?) e com a presença de uma figura vermelha que prefiro não comentar. O final chocou a mim e a plateia, algo meio assustador, meio engraçado. Durante boa parte do filme, Reygadas se utiliza de uma técnica com suas lentes que deixa os cantos do quadro embaçados (o filme é 1.37:1, quadradinho). É um recurso que cansa depois de um tempo, e é a mais óbvia pista do "cinema sonho" que Reygadas propõe. Assim como o uso da canção It`s All a Dream, de Neil Young (o nome dele é o último nos agradecimentos). Usufrua do filme como tal. Pra mim foi moderadamente divertido e interessante, embora ainda não faça a menor ideia do que significam certas imagens e sequências. Talvez até assistiria novamente. Deve ser muito interessante vê-lo sob efeito de algum alucinógeno.

POST TENEBRAS LUX
Cotação: BOM
Visto em 12/09 no TIFF Bell Lightbox 1
Por Filipe Marcena

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Martírio, em mais de um sentido


Fui tentar ver Naomi Watts de perto da première mundial de THE IMPOSSIBLE (Espanha, 2012) e acabei ganhando um ingresso para a sessão no pomposo Princess of Wales Theater. Vi Naomi três vez (na entrada, na paresentação do filme e na saída), além de Ewan McGregor e Gael Garcia Bernal. "Star gazing" a parte, o novo filme de Juan Antonio Bayona (O Orfanato) agradou bastante ao público do TIFF (surpresa?). Pra mim, ficou no meio do caminho. Bayona é um diretor de cinema de horror e suspense com algum talento, mas a história do trágico tsunami que destriu a costa tailandesa em 2004 matando milhares foi uma escolha um tanto insensitiva, eu diria. Ou ao menos a maneira com que ele lida com o material parece imprópria depois de certo tempo. Em seu núcleo, THE IMPOSSIPLE é drama familiar de sobrevivência. Não tem muita profundidade e só não vira hit na Sessão da Tarde pelo altíssimo grau de violência física. Passada a insípida introdução de personagens, uma família inglesa de férias, Bayona brilha no que sabe fazer melhor: nos causar terror. Mesmo sem nos importarmos o suficiente com os personagens - sentimos tanto por eles quanto pelos coadjuvantes e figurantes -, a cena da tragédia é apavorante. É muito importante assistir com um bom equipamento de som. Faz algum tempo que o oceano não se tornava algo tão amendrontador. É aí que começa o martírio da família inglesa, especialmente Naomi Watts, que não tem muito o que fazer a não ser sofrer, e muito. Ela o faz muito bem, mas ela já fez muito antes e em filmes melhores. Ewan McGregor convence como pai de família, mas também está preso ao melodrama de Bayona. Frustra o incrível elenco (Tom Holland, que faz o filho mais velho, Lucas, é muito bom), efeitos especiais de ponta e a história com tanto potencial ser desperdiçada num filme que apenas em raríssimas ocasiões tem alguma profundidade. Enquanto não é uma novela com fotografia incrível, THE IMPOSSIBLE se divide em momentos horror, alguns genuínos, outros forçados e sem o menor tato. Bayona manipula emoções sem culpa, reduzindo a tragédia de muitos à lágrimas baratas e um final feliz que particularmente me ofendeu, mesmo entendendo que se trata de uma história real (o filme deixa isso bem claro no início, o que já anuncia o problema). Aliás, a família que sobreviveu ao tsunami é espanhola e estava na sessão. O único momento de emoção verdadeira foram os abraços trocados entre eles e o elenco (Watts e a verdadeira Maria passaram um bom tempo abraçadas), e mesmo considerando que a presença deles tem um ou mais dedos da equipe de promoção do filme, eles me pareceram honestamente comovidos. Pena que o filme seja incapaz de fazer o mesmo conosco. THE IMPOSSIBLE estreia no Brasil em dezembro.

THE IMPOSSIBLE
Cotação: FRACO
Visto em 09/10 no Princess of Wales
Por Filipe Marcena

O canto do cisne de Raoul Ruiz


Numa incrível projeção digital 4K DLP da reconhecida empresa Christie, patrocinadora do Festival pelo décimo segundo ano consecutivo, assisti à encantadora despedida de Raoul Ruiz, La Noche de Enfrente (Chile, 2012) que estava perto de ser finalizado antes de sua morte em 2011. Preciso parabenizar/agradecer ao Festival pela incrível qualidade de imagem e som (a única vez que vi algo no mesmo nível foi na mostra Kubrick da última Janela Internacional de Cinema). Um verdadeiro prazer assistir a um filme como esse em tais condições. A imagem cristalina preencheu a tela do Isabel Bader Theater com a fantasia nostálgica de Ruiz. Belíssimo o fato de seu último filme ser um retorno à sua terra natal, o Chile, e trazer fortes traços de autobiografia, a experiência é emocionante. O alterego de  Ruiz é Jean Giono, interpretado pelo genial Christian Vadim. O fio condutor narrativo são as memórias reais e imaginadas deste trabalhador prestes a se aposentar. Encontros consigo mesmo em várias épocas, conversas com os ídolos Beethoven e Long John Silver, amores, família e obscuros personagens de seu passado se entrelaçam numa espiral onírica que, desde o título (aqui é chamado de Night Across The Street) já prevê o inevitável destino do protagonista. É assustador por parecer premeditado, e ao mesmo tempo de arrepiar os pêlos do pescoço de tão lindo. O uso de canções é espetacular, tocou meus afetos mesmo sem eu conhecê-las, trouxe uma nostalgia por algo que não vivi. Essa talvez seja a prova maior do quanto o filme funcionou pra mim. Ajudou o fato de de eu ser um fã de cinema de gênero, e Ruiz tinha uma olhar especial para lidar com o fantástico e o sobrenatural. Confesso que fiquei irritado com a reação da plateia, que aplaudiu educadamente, sem muita empolgação (algumas horas antes havia presenciado os calorosos aplausos para Imogene). O público do TIFF realmente tem muitas coisas em comum com o do Cine-PE. De qualquer maneira, torço para que LA NOCHE DE ENFRENTE receba seu devido lançamento nos cinema do mundo. Fãs de cinema irão se deliciar e só temos que agradecer à Raoul Ruiz.

LA NOCHE DE ENFRENTE
Cotação: ÓTIMO
Visto em 08/09 no Isabel Bader Theater
Por Filipe Marcena

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Filme mais disfuncional que a família


Première mundial de IMOGENE (EUA, 2012) aconteceu no primeiro fim de semana do TIFF.  Após uma longa fila de espera peguei a segunda sessão do filme, que contou com a presença de Annette Benning, ovacionada ao fim do filme. Assim que a sessão acabou, percebi que o público desse festival está muito próximo daquele do Cine-PE, que aplaude pra ser simpático ou por causa do oba-oba, como se fosse a única reação aceitável num festival. A comédia é dirigida pelo casal Shari Springer Berman e Robert Pulcini, que há muito tempo atrás fizeram um filme bom chamado Anti-Herói Americano. A personagem título é uma dramaturga que encena um suicídio pra reconquistar o ex-namorado, e acaba sob custódia da mão perturbada. Segue uma dramédia que não sabe o que quer da vida, mudando de tom o tempo todo sem motivo. Kristen Wiig é uma ótima comediante e entendo ela tentar aprofundar sua veia dramática (algo que ela ensaiou em Missão Madrinha de Casamento), mas aqui ela parece miscast, ou então que houve uma mudança nos objetivos do filme com a sua entrada no projeto. Fora que o roteiro já não é muito interessante, se apoiando com frequência em soluções baratas e em gags. Benning tem um ou outro momento inspirado, assim como Matt Dillon, mas IMOGENE precisava de mais do que piadas engraçadas pra se sustentar. Enquanto comédia não traz nada de novo, enquanto drama familiar é ruim e enquanto cinema é nulo. A platéia adorou as cócegas e aplaudiu de pé, sinal de que pode se tornar um sucesso no circuito indie (seguindo regras do cinema de estúdio, algo cada vez mais comum). Kristen Wiig precisa encontrar material melhor que isso pra se estabelecer.

IMOGENE
Cotação: RUIM
Visto em 08/09 no The Bloor Hot Docs Theatre.
Por Filipe Marcena

domingo, 9 de setembro de 2012

This is Toronto!


 Uma viagem de quase 24 horas foi cempensada já na primeira noite em Toronto. Um taxista indiano não só insistiu em me fazer economizar dinheiro me levando até uma estação de metrô como me deu trocados para pagar a passagem. No albergue, no primeriro andar de uma casinha aconchegante cheio de cartazes de falsos filmes antigos, fui atendido como se fosse da casa. As pessoas são incrivelmente gentis, muitos "sorry" e "thank you so much". Toronto é uma cidade de estrangeiros, o que já me deixa confortável já que muitas vezes lido pessoas que já passaram por essa mesma situação. Engraçado como áreas muito movimentadas, cheias de prédios e carros estão a apenas alguns passos de áreas que parecem suburbanas, com casinhas, quintais e cercas em ruas tranquilas. Cada bairro traz uma identidade própria, mas não há, a princípio, uma segregação. A Universidade de Toronto, absolutamente linda e com funcionários solícitos. Há algo de Hogwarts em seus edifícios, herança do domínio inglês. Ah, claro, o festival. Jornais e noticiários em polvorosa com o evento. Nos dois primeiros dias estava mais preocupado em me instalar e conhecer um pouco a cidade, além de socializar com meus novos amigos. Uma rápida passada no Scotiabank Theatre para ver o ótimo Killer Joe, de William Friedkin (uma família saiu no meio do filme, horrorizada, o que rendeu alguns risos dos poucos presentes) e, na saída, Sam Rockwell procurando a sala da sua sessão. A ficha ainda não caiu. No segundo dia, um passeio à noite pelo King Street foi coroado com as visões de Amy Adams passando rapidamente no tapete vermelho de The Master (Joaquin Phoenix já havia entrado) e Eva Mendes saindo da sessão de The Place Beyond The Pines. Histeria, centenas de pessoas, gritos e flashes. Não sei o que se pensa sobre os filmes em si, mas esse oba-oba acaba sendo uma divertida perda de tempo. O festival não é só isso, mas parece viver disso. Na foto acima, tirada pelo amigo Sebastian Watts, Eva Mendes acenando. Ainda vou me embriagar com o star system de uma maneira ou de outra - e sem culpa -, mas a maratona de filmes começa hoje e eu escreverei sobre eles mais a frente no Kinemail Blog.

Por Filipe Marcena