sábado, 22 de setembro de 2012

Estrelas nas sombras de um mestre


Fim de Festival, prêmios distribuidos, tapete vermelho recolhido, mas um pequeno grupo de estrelas de outros tempos ainda mostra porque seus nomes são lembrados nas telas do TIFF 2012. Aos incríveis e saudáveis 103 anos, Manoel de Oliveira dirige a adaptação da peça GEBO E A SOMBRA (2012, Portugal/França), de Raul Brandão. Creio que para tornar o filme mais acessível para o mercado internacional, traduziu o texto para o francês e escalou Michael Lonsdale, Claudia Cardinale e Jeanne Moreau para os papéis principais, além de seus atores-fetiche Leonor Silveira e Ricardo Trepa. O estilo de Oliveira continua o mesmo, e é com planos abertos, câmeras estáticas e longas tomadas que ele conta a história de Gebo (Lonsdale), um pobre contador de uma cidade costeira portuguesa que vive com a esposa Doroteia (Cardinale) e a nora Sofia (Silveira). Embora seja um homem de boa índole e honesto, Gebo esconde da esposa o verdadeiro paradeiro do filho João (Trepa), que saiu de casa oito anos atrás.

O segredo é a força motriz da primeira metade, fechada em diálogos e bastante claustrofóbica por se passar inteiramente numa sala de jantar (a maior parte de GEBO E A SOMBRA se passa nesse ambiente, na verdade). Eventualmente, numa bela cena, o filho pródigo retorna e verdades serão escancaradas. Algumas visitas são testemunhas (Moreau, Luis Miguel Cintra). Ao invés de "desteatralizar" a peça (como Polanski tentou no também claustrofóbico Deus da Carnificina), a mise-en-scene realça a teatralidade do texto, o que pode causar bastante impaciência para os não iniciados - muitos foram embora no meio da sessão. Acho uma escolha estética sincera, que vale o risco. Se você souber no que está entrando, pode se deliciar com os detalhes da direção do português, a aura de fenda no tempo que ele é capaz de criar, os atores fabulosos. A reviravolta do clímax é bem previsível, embora coerente. GEBO E A SOMBRA não é tão memorável quanto os mais recentes Singularidades de Uma Rapariga Loura e O Estranho Caso de Angélica, mas, ora bolas, é Manoel de Oliveira e precisa ser visto. Enquanto isso, o velhinho está produzindo seu novo filme A Igreja do Diabo, com Fernanda Montenegro e Lima Duarte. Respect.

GEBO E A SOMBRA
Cotação: BOM
Visto em 16/09 no Scotiabank Theater 11
Por Filipe Marcena

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