sábado, 22 de setembro de 2012

Muito culto para pouco


1. Projeção em 70mm é uma coisa impressionante, que resolução. A melhor projeção digital 4K não se compara à isso. O filme, rodado no formato, ganha muito, cresce na tela. Bela experiência.

2. Estranho como hoje filmes se tornam clássicos instantâneos graças a uma boa propaganda, "Oscar buzz" e fãs que ainda nem viram a obra. Enfim, THE MASTER (2012, EUA) é praticamente uma sequência de Sangue Negro. Pelo tom, pela estética, pela vontade de falar do macro através do micro, pela opressividade, por ser protagonizado por um ator genial num papel assustador, perfeito pra ele. Paul Thomas Anderson continua a estudar as raízes da América, agora mirando no nascimento de uma religião durante o pós-guerra, inspirado pela Cientologia, no filme chamada de A Causa. Ele desafia o culto comandado por Lancaster Dodd (Phillip Seymour Hoffman) e sua esposa Peggy Dodd (Amy Adams) através do alcoólico e violento Freddie Quell (Joaquin Phoenix), um monstro que aceita ser domesticado. Por alguma razão, essa sinopse cheia de potencial não chega à muitos lugares. Falta alguma coisa em THE MASTER, talvez uma posição menos ambígua de Anderson, ou um roteiro mais enxuto e destemido. Impressão de que o filme é muito simples - às vezes simplista - para tanta pose, tanta epopéia. A favor estão as performances. Hoffman, Adams e Laura Dern estão ótimos, e só não causam maior impacto por causa da inconsistência do roteiro. Quem realmente causa impacto é Joaquin Phoenix. Na assombrosa projeção em 70mm vemos cada detalhe do seu rosto, e mesmo que não exista muita conexão emocional sua imagem causa comoção pela beleza e expressividade.

O clímax entre ele e Hoffman não funciona como deveria, mas seu close-up diz mais do que a cena inteira. Sobre a trilha, nada contra a música de Jonny Greenwood, mas Anderson precisa encontrar maneiras mais interessantes de usá-las, sem comentar o filme todo. O filme seria mais atraente se fosse mais silencioso. Triste é constatar que as ideias do filme não são tão profundas quanto aparentam. Os Dodd, assim como os seguidores da Causa, são caracterizados como lunáticos maliciosos que não sabem que o são, enquanto Freddie é um lunático assumido se esforçando para não sê-lo. Os Dodd são monocromáticos (Adams é bastante prejudicada com isso), são os mesmo do início a fim, falta substância e um arco dramático mais vertiginoso. E mesmo após a escassa crítica de Anderson à Cientologia/Causa, ele sugere que Freddie foi, de certa maneira, curado. O que THE MASTER quer afinal? Não sei, e não tenho certeza se encararia novamente a tediosa segunda metade para tentar tirar algo mais do filme. Partes muito boas não fazem um todo muito bom, e embora Anderson seja um cineasta talentoso, seria mais interessante para ele aplicar sua técnica e estética em algo mais sólido a essa altura de sua carreira. Pessoalmente, gostaria que ele fizesse algo como Embriagado de Amor de novo.

THE MASTER
Cotação: REGULAR
Visto em 21/09 no Varsity 8 (pós-festival)
Por Filipe Marcena

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