sábado, 19 de novembro de 2011
Listão dos filmes vistos na 35ª Mostra SP
Kinemail encerra a cobertura da 35ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo com a lista completa dos 39 filmes vistos em 17 dias, com cotações:
01. VIDAS AMARGAS *****
02. LARANJA MECÂNICA ****
03. O TROVADOR KERIB ****
04. PAÍS DO DESEJO *
05. PATER ***
06. FORA DE SATÃ ***
07. LOVERBOY ***
08. TATSUMI ***
09. O FUTURO **1/2
10. ERA UMA VEZ NA ANATÓLIA *****
11. RITMOS, BATIDAS E VIDA - Uma Viagem com A Tribe Called Quest ****
12. APENAS UMA NOITE **1/2
13. SINDICATO DE LADRÕES ***
14. THE FORGIVENESS OF BLOOD **1/2
15. NERVOS À FLOR DA PELE ***
16. FRANGO COM AMEIXAS **1/2
17. THE DAY HE ARRIVES ***1/2
18. AQUI **
19. AS CANÇÕES *****
20. A DOENÇA DO SONO ****
21. SUBMARINO *1/2
22. UM.DOIS.UM **1/2
23. A COR DA ROMÃ ****
24. DESPAIR ****
25. VULCÃO **
26. AS ACÁCIAS *****
27. O CAMPO *1/2
28. HABEMUS PAPAM ***1/2
29. TUDO PELO PODER ***1/2
30. O LEOPARDO *****
31. DESAPEGO ***1/2
32. LOW LIFE *
33. DEZ INVERNOS ***
34. SUDOESTE ***
35. SÁBADO INOCENTE ****
36. ATTEMBERG **1/2
37. FAUSTO *****
38. CAVERNA DOS SONHOS ESQUECIDOS 3D *****
39. O MUNDO DE CORMAN - Aventuras de um Rebelde em Hollywood ***
E ano que vem tem mais!
Fernando Vasconcelos | Filipe Marcena
quinta-feira, 10 de novembro de 2011
O limite do suportável
Em 2007 Nicolas Klotz nos presenteou com o sublime A Questão Humana, um filme de sutilezas e tempos enigmáticos que trazia uma excepcional performance de Mathieu Amalric. Esse filme ganhou o prêmio da crítica da Mostra de São Paulo daquele ano. Em 2011, Klotz veio à São Paulo para uma master class e para apresentar seu mais recente LOW LIFE (Les Amants de Low Life | França | 2011). Tentarei resumir o filme brevemente: pegue Crepúsculo, o coloque na França, substitua os vampiros por jovens ativistas rebeldes que escondem imigrantes africanos num apartamento, e insira no romance interracial uma tonelada de discursos políticos/poéticos. Só mantenha o figurino dark das criaturas noturnas, a duração infinita da projeção e o marasmo que é vida dos torpes personagens. Nunca saí de uma sessão antes que o filme terminasse, por maior que fosse a bomba, mas LOW LIFE foi impossível. Nem eu e nem Fernando conseguimos terminá-lo pra saber se sua meia hora final se salvava. Aliás, nem o Kinemail nem metade do público que estava na sessão, que debandou. Fica pra próxima, seu Nicolas Klotz.
por Filipe Marcena
segunda-feira, 7 de novembro de 2011
Indielândia britânica
SUBMARINO (Submarine | Reino Unido | 2011) é mais um rebento daquele cinema independente que acredita piamente que, se tiver um roteiro espertinho, personagens anti-heróis cuidadosamente fofinhos para não chocar ninguém e visual estiloso com design de produção beirando o kitsch, ele é automaticamente um filme cult. Bom, se depender de filmes como esse o termo cult vai ganhar de uma vez por todas um contorno pejorativo. Dirigido pelo iniciante Richard Ayoade, SUBMARINO traça caminhos que lembram as adaptações de Nick Hornby. É adaptado no livro cheio de referências pop de Joe Dunthorne, lida com amadurecimento, apresenta um foco incisivo na juventude (de corpo e/ou de espírito). Conta a história de Oliver Tate (Craig Roberts, idêntico a um jovem John Cusack) , rapazinho inteligente e metido a besta dos anos 80 que quer perder a virgindade com Jordana Bevan (Yasmin Paige), uma insuportável garotinha pseudo-rebelde. Através de sua invasiva narração, entramos na mente sagaz do jovem que raramente pára a boca. Entre um devaneio e um bullying na escola, seus pais (Sally Hawkins e Noah Taylor) naufragam com o casamento, principalmente após a chegada de um vizinho estranho (Paddy Considine), dividindo o filme entre o núcleo romântico cheios de cenas meigas e o da investigação da vida do vizinho. A embalagem pop coloridinha com montagem frenética over anulou de vez qualquer simpatia que eu jamais poderia ter pelos irritantes personagens, e quando o filme se acalma no final já é tarde demais. Pessoal parece que aprendeu muito bem a técnica, mas esqueceu do básico, que é a contar bem uma história independente das firulas. O pior é ver um grupo de atores experientes tão bons desperdiçados em papéis que são desinteressantes até para o próprio filme. Que essa onda de filmes pseudo-fofos evanesça.
por Filipe Marcena
por Filipe Marcena
sábado, 5 de novembro de 2011
Marjane Satrapi faz bombom francês melancólico
Depois da boa acolhida pela adorável animação Persépolis, a dupla Marjane Satrapi e Vincent Paronnaud chega ao segundo filme com ares de superprodução francesa, contando no elenco com Mathieu Amalric, Maria de Medeiros (que estava presente na sessão) e pontas luxuosas de gente com Isabella Rosselini. FRANGO COM AMEIXAS (Poulet Aux Prunes | França | 2011) é baseado no segundo livro de Marjane Sartrapi e não é mais autobiográfico. Agora ela conta a triste e bela história de um tio, violinista que teve seu instrumento destruído numa briga pessoal e, infeliz, decide morrer, esperando a morte enquanto relembra sua vida e questiona sua própria identidade como artista. Em filme, isso foi transformado num ambicioso e rico projeto visual, que ainda faz uso de animação e outras técnicas visuais, inclusive nas cenas reais com atores, lembrando o trabalho superestimado de Jean-Pierre Jeunet e até Amelie Poulain (isso não é um elogio). O resultado, apesar de honesto, é um tanto cansativo e visualmente cafona em algumas passagens. Embora melancólico, o filme abre espaço para humor inspirado. Tem lançamento certo no Brasil e deve agradar aos fãs, inclusive foi premiado como um dos preferidos do público nessa Mostra SP.
por Fernando Vasconcelos
quinta-feira, 3 de novembro de 2011
As melodias do afeto
por Filipe Marcena
Encerramento e vencedores da 35ª MOSTRA SP
Foi realizada na noite de quinta 03/nov, no CineSESC, a cerimônia de encerramento da 35ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo. A Mostra SP continua por mais uma semana, até quinta-feira 10/nov, com reprises de filmes altamente recomendados como FAUSTO, SÁBADO INOCENTE, CAVERNA DOS SONHOS ESQUECIDOS, incluindo ainda um filme inédito, o documentário O MUNDO DE CORMAN: AVENTURAS DE UM REBELDE DE HOLLYWOOD, por conta de atraso na chegada da cópia.
Confira aqui toda a programação dessa Retrospectiva aqui http://35.mostra.org/programacao/
PRÊMIO DO JÚRI
MELHOR FILME: RESPIRAR, de Karl Markovics (Áustria)
MELHOR DOCUMENTÁRIO: MARATHON BOY, de Gemma Atwal (Índia, Reino Unido, EUA)
MELHOR ATOR: THÉODÓR JÚLIUSSON, por VULCÃO (Islândia, Dinamarca)
MELHOR ATRIZ: ALINA LEVSHIN, por COMBAT GIRLS (Alemanha)
PRÊMIO ESPECIAL DA CRÍTICA
SÁBADO INOCENTE, de Alexander Mindadze (Rússia, Ucrânia, Alemanha)
GRANDE PRÊMIO DA CRÍTICA
ERA UMA VEZ NA ANATÓLIA, de Nuri Bilge Ceylan (Turquia, Bósnia-Herzegovina)
PRÊMIO DO PÚBLICO
MELHOR DOCUMENTÁRIO BRASILEIRO: RAUL – O INÍCIO, O FIM E O MEIO, de Walter Carvalho e VAI-VAI: 80 ANOS NAS RUAS, de Fernando Capuano
MELHOR DOCUMENTÁRIO INTERNACIONAL: BATIDAS, RIMAS & VIDA: AS VIAGENS DE A TRIBE CALLED QUEST, de Michael Rapaport (EUA)
MELHOR LONGA DE FICÇÃO BRASILEIRO: TEUS OLHOS MEUS, de Caio Sóh
MELHOR FILME DE FICÇÃO INTERNACIONAL: FRANGO COM AMEIXAS, de Marjane Satrapi e Vincent Paronnaud (França, Alemanha, Bélgica) e DESAPEGO, de Tony Kaye (EUA)
PRÊMIO DA JUVENTUDE: UMA INCRÍVEL AVENTURA, de Debs Gardner-Paterson (África do Sul, Ruanda, Reino Unido)
por Fernando Vasconcelos
África na pele
Sem muito alarde, somos projetados para três anos após os eventos anteriores. Nosso protagonista agora é o doutor Alex Nzila, negro de descendência africana e conhecido da família Velten, que se vai de sua terra natal Londres ao Camarões para coletar informações sobre a epidemia da doença. Lá ele encontra Ebbo, agora com um melancólico semblante, e uma tonelada de desilusões. É quando A DOENÇA DO SONO começa a dizer a que realmente veio. E eu não quero revelar muita coisa, apenas digo que não é uma transformação em um filme gênero como o poster pode sugerir. É algo muito maior, de forte impacto e que dificilmente deixa seus espectadores indiferentes (o público da minha sessão estava claramente dividido). Pequenas revelações e descobertas transformam os pensamentos de Alex, e põe os nossos em parafuso. É um filme lento, que exige certa paciência, mas as recompensas são muito válidas. Para empolgar um pouco mais, o final é um dos melhores que vi nessa 35ª Mostra. A DOENÇA DO SONO é intenso, gradualmente tenso e problematiza assunto altamente relevantes como altruísmo e deslocamento, questionando e demolindo as raízes de uma ingênua se não falsa, filantropia estrangeira.
por Filipe Marcena
Onde?
Uma das bobagens mais pretensiosas da Mostra é AQUI (Here | EUA | 2011), indie que veio do Festival de Sundance. Tem todas as boas intenções do mundo, mas se equivoca em suas propostas, embora seja relativamente bem executado. O que o filme tem de melhor é Ben Foster, como ator subestimado de filmes como O Mensageiro e Alpha Dog, aqui interpretando o cartógrafo americano Will Shepard, que viaja à Armênia para pesquisar e analisar o local, sob o comando de uma grande empresa. Lá ele se enamora de Gadarine Nazarian (Lubna Azabal, de Incêndios e Paradise Now), uma fotógrafa expatriada. Os conflitos que surgirão são previsíveis, sem inspiração e mal explorados. O documentarista Braden King, estreando na direção de longas de ficção, confere uma auto-importância ao filme que o torna sacal, incluindo aí a pedante narração de Peter Coyote e os efeitos de montagem e fotografia que são tão estilosos quanto dispensáveis, esticando a história por intermináveis duas horas. E é impressionante como os cineastas de hoje são tão dependentes de trilha sonora para situar as emoções. Se suas imagens tão bem fotografadas não conseguem se sustentar sozinhas é porquê há algo de errado com elas. As paisagens se sobrepõe aos personagens e às discussões culturais e físicas que o filme aborda, e esse 'aqui' que é a paisagem armênia é o que o filme tem de mais interessante a oferecer.
por Filipe Marcena
terça-feira, 1 de novembro de 2011
Repetição vintage
Sang-soo Hong, premiado diretor coreano, chama atenção na Mostra com o interessante THE DAY HE ARRIVES (Book Chon Bang Hyang | Coréia do Sul | 2011). Difícil classificar o filme, e isso é uma de suas qualidades. A pessoa a quem o título se refere é Sang-Joon, cineasta que trabalha numa universidade provinciana como professor e viaja à uma fria Seoul para passar três dias. Ele reencontra sua ex-namorada e seu mentor, o crítico de cinema Young-Ho, a fim de resolver antigas pendências. Nesse meio tempo, vai à bares e restaurantes para beber, comer e beber mais um pouco. Por três dias que parecem os mesmos, as histórias quase que se repetem. Ele encontra as mesmas pessoas, vai aos mesmos bares, tem conversas parecidas. Mas a cada dia, as situações ganham novos contornos. Essa espécie de marmota que é o conceito do filme, é responsável por ótimos insights sobre as relações fraternas e românticas e também define o humor de fácil identificação proporcionado pelas histórias intimistas. Ao mesmo tempo, a repetição chega a cansar em certos momentos. O experimentalismo se sustenta por causa da leveza da direção de Hong, da estética vintage com fotografia em preto-e-branco e vários zoons-in e zoons-out e do carisma dos atores, que garantem uma sessão agradável e curiosa. A amargura e a melancolia que compõem as entrelinhas são bônus que enriquecem o filme. Charmoso.
por Filipe Marcena
Amigos de colégio
Gabriel, adolescente islandês tímido, passa três semanas estudando numa escola em Manchester. Lá ele divide o quarto com Marcus, relaxado aspirante à cabeleireiro. Numa noite de bebedeira, eles trocam um beijo. Logo Gabriel volta para sua terra natal e reencontra seus amigos: Teddi, mulherengo incorrigível que tenta reconquistar o amor de Tara; Stella, que não aguenta mais viver com sua avó preconceituosa; Greta, que procura o pai biológico para se livrar de sua mãe junkie; e Judith, sexy e descontraída colega de apartamento de Greta. Esses e outros jovens buscam resolver (ou encontrar) conflitos para se sentirem vivos, e acabam dando de cara na maturidade. Isso é NERVOS À FLOR DA PELE (Órói/Jitters | Islândia | 2010), drama teen que está mais interessado em dialogar com seu público alvo do que em maiores pretensões. Em parte funciona. Nos seus melhores momentos, o filme lembra Fucking Amal - Amigas de Colégio, incluindo nos tipos que permeiam a cena, trocando o casal de meninas por dois rapazes. Só não chega no mesmo nível por uma razão simples, que é a vontade de falar de muita coisa em pouco tempo. Se o filme de Lukas Moodyson centralizava a história nas duas meninas apaixonadas, a estreia de Baldvin Zophoníasson em longas-metragens peca por querer transformar pelo menos cinco personagens em protagonistas, abandonando a ideia do prólogo, onde Gabriel é o guia da história. E não é problema falar sobre muita gente e muitas coisas, mas 90 minutos é pouco para tanto material, e o islandês não é nenhum Altman. O resultado é um amontoado de personagens carismáticos, interessantes e bem interpretados pelo elenco juvenil, mas costurados atrapalhadamente num roteiro afoito. Uma sequência envolvendo suicídio não causa o impacto emocional que deveria, embora seja mais correto e honesto que o de As Melhores Coisas do Mundo, por exemplo. Mesmo aos tropeços, NERVOS À FLOR DA PELE pode encontrar seu público, que é o mesmo de telesséries como Skins.
por Filipe Marcena
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