quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Sonho/Pesadelo Punk de Reygadas


Dizer que POST TENEBRAS LUX (Chile, 2012) é um dos filmes mais estranhos já feitos, que é pretensioso, que exige paciência do espectador e que o diretor Carlos Reygadas é completamente dodói não te dará a mínima noção do que é a experiência desse filme. Na verdade, esse é o tipo de filme que me faz questionar pra que diabos serve um crítico (Império dos Sonhos fez exatamente isso, e com muita gente). É um filme pessoal feito para que experiências pessoais ocorram com ele. Em Cannes, onde ganhou o prêmio de melhor diretor, foi vaiado e destruído pela crítica. Não consigo taxar o filme de bom nem de ruim, pois é necessário questionar "a partir de quê esse filme é bom/ruim?", e existem poucas coisas parecidas com POST TENEBRAS LUX . É o filme mais fragmentado e desconexo de Reygadas, e foi bom escutar a recomendação da atriz Natalia Acevedo: "Procurem sentir o filme ao invés de entendê-lo". Acredite, isso te poupa um bom esforço desnecessário. Cinema é sonho, e depois de La Noche de Enfrente, um filme sonhado, mas de fundações mais sólidas e claras, foi tranquilo encarar as duas horas de simbolismo, fotografia histericamente bela e imagens inesquecíveis. Classificaria esse filme como o anti-A Árvore da Vida. Lembrou-me bastante o filme do Terrence Malick, só que ao avesso, sem os excessos de mensagem edificante metafórica. É um filme punk. Tem a história de uma família cujo pai tem surtos de violência, mas esse é apenas o fio de storyine mais óbvio. Um time de futebol inglês se prepara pra um jogo, os homens de uma cidade mexicana se reunem para falar sobre seus problemas e defeitos, pai e mãe visitam uma esquisita sauna francesa. Há algo de mítico no filme, com a relação que os homens têm com a natureza (Pã?) e com a presença de uma figura vermelha que prefiro não comentar. O final chocou a mim e a plateia, algo meio assustador, meio engraçado. Durante boa parte do filme, Reygadas se utiliza de uma técnica com suas lentes que deixa os cantos do quadro embaçados (o filme é 1.37:1, quadradinho). É um recurso que cansa depois de um tempo, e é a mais óbvia pista do "cinema sonho" que Reygadas propõe. Assim como o uso da canção It`s All a Dream, de Neil Young (o nome dele é o último nos agradecimentos). Usufrua do filme como tal. Pra mim foi moderadamente divertido e interessante, embora ainda não faça a menor ideia do que significam certas imagens e sequências. Talvez até assistiria novamente. Deve ser muito interessante vê-lo sob efeito de algum alucinógeno.

POST TENEBRAS LUX
Cotação: BOM
Visto em 12/09 no TIFF Bell Lightbox 1
Por Filipe Marcena

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