domingo, 16 de setembro de 2012

Cinema (quase) incidental


Embora ele trabalhe desde os anos 90, conheci o cinema do coreano Sang-soo Hong na Mostra de São Paulo do ano passado com The Day He Arrives, filme esquisito, simpático, elegante em sua repetição. Com IN ANOTHER COUNTRY (Coreia, 2012), competição Cannes 2012, Sang-soo mira num público maior, não só pela acessibilidade de sua(s) nova(s) história(s), mas também pela presença de Isabelle Huppert como protagonista. Não há complicações para "entender" o filme, embora muitos devam questionar o objetivo do estilo falso-randômico do cineasta mas, como um exercício puro de cinema, o filme é bem interessante. Conhecemos três turistas francesas, todas encarnadas por Huppert, que parece estar se divertindo bastante. Em três ciclos ligados por uma introdução que justifica a narrativa, somos apresentados a uma diretora de cinema, uma amante e uma mulher traída. O cenário é a costa coreana. Personagens se repetem, situações se repetem, algo mais forte que a verossimilhança interliga as três histórias. Adoro que Sang-soo não investe em questões espirituais ou metafísicas para justificar a narrativa - é o cinema que conecta as três francesas, de uma maneira ou de outra -, mas ainda assim elucida sobre a natureza cíclica da vida. Seu cinema continua fino, seu uso de zoom-in e zoom-out, sempre repentinos, rápidos e salientando situações-chave, é de uma precisão rara. Não sou muito fã do zoom, mas me rendo à maneira como o coreano aproveita a técnica. Ele também é um roteirista talentoso, cria personagens sólidos e curiosos, a empatia é quase imediata e é difícil esquecê-los (o salva-vidas, o casal em crise, a moça do guarda-chuva e o monge budista são pérolas). Com a presença de Huppert e a leveza da obra, IN ANOTHER COUNTRY deve fazer sucesso do circuito alternativo.

IN ANOTHER COUNTRY
Cotação: BOM
Visto em 15/09 no Scotiabank Theater 1
Por Filipe Marcena

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