sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Romance queer mimado


Entendo em parte o respeito que Xavier Dolan vem acumulando com o passar dos seus poucos anos de carreira. Ele é um rapaz jovem e demonstra destreza e talento ao lidar com a técnica do cinema. Seu filme de estreia  Eu Matei a Minha Mãe é bem interessante e cheio de energia e, mesmo com os problemas comuns da falta de experiência, surpreende. Mas acredito que infelizmente ainda tratam Dolan como um bibelô. A impressáo que tenho de seu segundo filme, Amores Imaginários, e esse novo, LAURENCE ANYWAYS, é de que alguém disse pra ele que ele é artista e o negócio subiu à cabeça do rapaz. Não deve ser fácil criar auto-disciplina numa situação como a de Dolan, isso é verdade. Mas cinema mimado irrita, não importa a idade. Aqui Dolan tem uma premissa interessante: casal hétero sofre uma crise quando Laurence revela que se sente mulher e passa a se vestir como uma. Potencial para discutir questões de gênero num romance incomum. O que me restou foram longas 2h30min de coisas que já vi melhor e várias cenas com jeito de propaganda de perfume (Dolan deveria considerar isso). Enquanto reflexão sobre sexualidade e gênero, LAURENCE ANYWAYS é raso, usa muitas palavras e poucas imagens. Melvil Poupaud, bom ator, está bastante masculino, a ponto de eu esquecer de que na verdade estava olhando para uma mulher, e isso me incomodou. Parece que houve um receio de chocar, um equívoco. Já enquanto romance o filme é eterno, indo e voltando por um motivo ou por outro, e Dolan preenche o vazio com belas imagens e metáforas sensoriais que se desintegram assim que passamos para a cena seguinte. O filme é basicamente sustentado por Suzanne Clément, atriz excepcional, sempre uma figura que atrais seus olhos, pela vivacidade. Há momentos muito bons, como o da sala de aula, mas pra cada um deste há momentos constrangedores, como a festa de gala sem noção, um clipe do Dolce & Gabbana enfiado no meio da história. Esteticamente, só faz sentido porque o filme é de Xavier Dolan. Nesse meio tempo, a plateia suspira de tédio e se ajeita na cadeira. Um pouco de foco e auto-controle não faz mal à ninguém.

LAURENCE ANYWAYS
Cotação: FRACO
Visto em 13/09 no Elgin Theater
Por Filipe Marcena

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