domingo, 23 de outubro de 2011

Parajanov: Cinema bom para os olhos


Segundo dia de Mostra e o Kinemail mais uma vez preferiu revisitar antigos clássicos em sessões especiais e retrospectivas. Não que não estejamos empolgado com os tão promovidos inéditos, que vamos começar a ver nesse domingo, mas é bom começar um festival (re)assistindo a obras clássicas e definitivas, já estabelece um nível alto para as novas produções. Ontem foi dia de Sergei Parajanov com o hipnotizante O TROVADOR KERIB (Ashug-Karibi | União Soviética | 1988), e Stanley Kubrick com a cópia restaurada em digital de Laranja Mecânica. Ambas as sessões lotadas, com gente sentada no chão, lindo de se ver. O TROVADOR KERIB foi exibido em 35mm, cópia brasileira legendada exibida no país em 1988. Quem se familiarizou com o cineasta através de A Cor da Romã, obra-prima lançada em DVD pela Lume Filmes, já sabe com que tipo de gênio está lidado. Em O TROVADOR KERIB, Parajanov, nascido na Geórgia mas de descendência Armênia, narra em capítulos a história do menestrel Kerib que, após prometer casamento à sua amada, parte para uma viagem errante de 1001 dias a fim de reunir dinheiro suficiente para cumprir seu compromisso, reutilizando elementos da cultura armênia, turca e do Azerbaijão.

Parajanov era artista plástico, inclusive quando era cineasta. Usando poucos diálogos e músicas folclóricas, O TROVADOR KERIB tem um espírito de lenda que é construído através de seus curtos episódios e imagens pictóricas e elaboradas, uma série de tableux vivants míticos. É altamente virtuoso, com fotografia e direção de arte surrealistas de cair o queixo. E também divertido, com um humor que remete à Jacques Tati e números musicais. Mas Parajanov não faz uma simples coleção de belíssimas imagens, e sim uma de suas obras mais pessoais. Existem, na maneira com que a alma do Kerib é destrinchada, simbolismos evocativos para as tribulações do artista. Um trovador reutiliza obras de outros autores adicionando seus próprios floreios às canções. Em uma cena muito tocante, Kerib enterra um velho e recém falecido trovador ao som de uma versão peculiar de 'Ave Maria'. Quando, ao final do filme, vemos a dedicatória ao cineasta Andrey Tarkovskiy, amigo próximo de Parajanov morto dois anos antes da realização de O TROVADOR KERIB, é difícil não sentir uma nova onda de emoção. Cinema grandioso repleto de dança, música e deleites visuais em curtos 75 minutos. Os filmes do Parajanov estão entre as sessões imprescindíveis dessa Mostra.

por Filipe Marcena

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