sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Expectativas de uma hipster


Este o novo filme da diretora Miranda July, do cultuado Eu, Você e Todos Nós, exibido em 2005 e já comentado no Dicas de Cinéfilo do Kinemail. Naquela época, o cinema indie americano entrava numa fase fraca, cheia de mimimi e afetação e que ainda custa a passar. O filme de July chegava muito próximo disso, mas existia uma autenticidade, uma estranheza e uma ternura que transcendia os excessos de fofura. Já este O FUTURO (The Future | EUA | 2011) tende mais para o lado ruim desse cinema, que acha que tudo relacionado à eles é realmente muito interessante. A história é sobre um casal, interpretado por July e Hamlish Linklater (da série The New Adventures of Old Christine), que estão juntos há quatro anos. Eles adotam um gato de rua e o levam ao veterinário, onde o bicho passará um mês. Daí o casal decide mudar de vida nesse período de tempo, e o relacionamento dos dois será testado. Tudo isso é narrado pelo gato, vale salientar.

Existem erros e acertos em O FUTURO. Preciso começar pelo gato narrador que, embora em certo nível funcione como metáfora, torna-se irritante depois de um tempo. Mesmo quem gosta de gatos pode se sentir irritado com a criaturinha dublada pela própria July. Outro problema é o desenvolvimento da personagem de July. É muito arbitrário o comportamento da moça, nada fácil acreditar (que dirá se envolver) nas atitudes dela e em algumas soluções artificiais do roteiro. Por outro lado, existe uma verdade nos sentimentos de frustração que o filme discute. O tal futuro ideal, tão cobiçado e assustador, é visto aqui como um conceito quebrado, defeituoso e puramente fantasioso em se tratando de relacionamentos. Há uma bela sequência dividida por elipses onde o personagem de Linklater 'pára o tempo' momentos antes de ouvir uma revelação que o atormentará, no melhor exemplo de procrastinação justificada que já se viu no cinema. É aí que July mostra seu potencial enquanto estruturadora de narrativas e diretora. O FUTURO é um passo atrás do filme anterior, mas, caso July decida ser menos hipster e mais cineasta, seus próximos trabalhos ainda merecerão uma conferida.

por Filipe Marcena

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