domingo, 30 de outubro de 2011

Brigar pra quê?


Poucos cineastas sabem criar uma atmosfera verdadeira de tensão, construir suspense através de muito pouco, quase nada. Quem assistiu Maria Cheia de Graça em 2004 lembra, além da incrível e premiada performance de Catalina Sandino Moreno, da tensão quase insuportável da história da menina colombiana grávida que serve de mula para traficantes. O americano Joshua Marston demorou sete anos para realizar sua segunda e aguardada obra. O resultado foi THE FORGIVENESS OF BLOOD (EUA, Albânia | 2011) , que estrou no começo do ano no Festival de Berlim. Uma coisa pode-se afirmar após a sessão do filme: Marston tem uma boa mão para o suspense. Ele transforma um fiapo de enredo numa narrativa de gradual mal-estar e sensação de agonia. Uma pena que o roteiro não faça jus ao pulso firme de diretor que Marston tem. THE FORGIVENESS OF BLOOD aborda uma guerra entre famílias no interior da Albânia, conflito que nasceu após o assassinato do membro de uma delas. O filme se centra nos filhos da família mais pobre, Rudina e Nik. É através dos seus olhos que acompanhamos as ameaças, a violência e os desentendimentos. Nik não quer tomar parte no conflito e faz de tudo para que a guerra pare. Mas pouco ele pode fazer. Isso é basicamente o que move os personagens, e não posso negar que seja um tanto frustrante a falta de um subtexto mais consistente, de mais drama mesmo. O que era simples vira simplório da metade pro final. Afinal, que questões que já não conheçamos Marston quer nos colocar? Desde o início do filme já se percebe que ele é sobre uma juventude que não quer pagar pelo passado de seu sangue, mas não há maiores desenvolvimentos a partit daí. A anti-climática conclusão é insossa, previsível e pobre de simbolismo, deixando uma impressão ruim sobre um filme que é, ao menos, correto. Fato é que, como exercício de gênero, Marston faz um bom trabalho e muitas vezes é difícil não ficar desconfortável, como numa sequência simples envolvendo uma faca, que não move a história pra lugar algum, mas é de roer as unhas.

por Filipe Marcena

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