quinta-feira, 3 de novembro de 2011

As melodias do afeto


Antes da sessão de AS CANÇÕES (Brasil | 2011), o cineasta Eduardo Coutinho foi convidado pela produção da Mostra para apresentar seu novo filme. Coutinho agradeceu a presença de todos, disse que fez o filme por que quis e que se não gostássemos, tanto faz. Como não amar uma criatura dessas? E assim é AS CANÇÕES: simples, direto, despojado, despreocupado com maiores reflexões metalinguísticas e um maldito causador de lágrimas descontroladas aos litros. A primeira comparação que vem à´cabeça é com a obra-prima Jogo de Cena, até por possuir um formato parecido (palco, intérprete, entrevistador). Mas as comparações param por aí. AS CANÇÕES não quer discutir real, verdade e encenação. A ideia foi convidar pessoas dispostas a cantar as canções de sua vida e explicar que história existe por trás dessa alcunha. Simples e direto. O que não é simples é a humanidade. E Coutinho mais uma vez mostra porque é mestre ao capturar a essência daquelas pessoas por trás da vaidade de ter uma câmera apontada pra si. Dessa vez o som é o objeto catalisador, o som de suas vozes, muitas vezes quebradas por causa de memórias recalcadas. O dispositivo de Coutinho funciona às mil maravilhas, e se nós choramos com os personagens não é apenas porque suas histórias são tristes (nem sempre o são), mas por que a identificação é imediata. Somos todos, espectadores e personagens, pegos pela raiz, pela base, pelos afetos que nos formam. E pelo poderoso gatilho de emoções, memórias e sentimentos que são as canções populares. O subjetivo dos cantores se torna nosso, a sensação de compreensão humana através dos sons é algo indescritível. É um filme repleto de amor e humanismo, como todo bom filme de Coutinho. Como não amar um cinema desses?

por Filipe Marcena

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