quinta-feira, 3 de novembro de 2011

África na pele



Mas que experiência estranha é assistir a este A DOENÇA DO SONO (Schlafkrankheit | Alemanha | 2011). Fui convencido a conferi-lo pelo fantástico poster que você vê acima, e o filme é tão desconcertante e surpreendente quanto esse design denuncia. Ganhou o prêmio de direção em Berlim para o alemão Ulrich Köhler, o que soa bastante justo após ver seu trabalho. Trata-se de um filme primo de Minha Terra, África, filmaço de Claire Denis, pelo menos em se tratando de temas e estranhezas provocadas (e provocantes). A tal doença do sono é o que move os personagens do filme, sendo ela apenas a ponta do iceberg do que há no coração da África e daqueles que entram em contato com ela. A primeira parte do filme sugere um filme mais convencional: o médico alemão Ebbo Velten trabalha no Camarões lutando contra uma epidemia da doença do título, tendo ao seu lado a esposa Vera e sua filha Helen. Entre viagens e palestras, pequenos conflitos e discussões sobre a situação africana brotam. Ebbo manda sua família de volta à Alemanha e promete segui-la, mas seus superiores ainda não querem que ele vá embora tão cedo.

Sem muito alarde, somos projetados para três anos após os eventos anteriores. Nosso protagonista agora é o doutor Alex Nzila, negro de descendência africana e conhecido da família Velten, que se vai de sua terra natal Londres ao Camarões para coletar informações sobre a epidemia da doença. Lá ele encontra Ebbo, agora com um melancólico semblante, e uma tonelada de desilusões. É quando A DOENÇA DO SONO começa a dizer a que realmente veio. E eu não quero revelar muita coisa, apenas digo que não é uma transformação em um filme gênero como o poster pode sugerir. É algo muito maior, de forte impacto e que dificilmente deixa seus espectadores indiferentes (o público da minha sessão estava claramente dividido). Pequenas revelações e descobertas transformam os pensamentos de Alex, e põe os nossos em parafuso. É um filme lento, que exige certa paciência, mas as recompensas são muito válidas. Para empolgar um pouco mais, o final é um dos melhores que vi nessa 35ª Mostra. A DOENÇA DO SONO é intenso, gradualmente tenso e problematiza assunto altamente relevantes como altruísmo e deslocamento, questionando e demolindo as raízes de uma ingênua se não falsa, filantropia estrangeira.

por Filipe Marcena

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