segunda-feira, 16 de outubro de 2017

Tensão e racismo em Detroit

Talvez quem faz o cinema mais macho atualmente nos EUA, a diretora Kathryn Bigelow derrubou no Oscar o ex-marido James Cameron (com Avatar), levando 6 estatuetas pelo tenso The Hurt Locker - Guerra ao Terror, incluindo o primeiro Oscar de direção para uma mulher. Dirigiu Near Dark, um dos melhores filmes de vampiros dos anos 80, o sucesso de ação Caçadores de Emoção e o fracasso (mas bem bom) de ficção científica Strange Days. A testosterona alta dos seus filmes fez o cartaz brasileiro de Detroit até esconder que é "filme de mulher", com a chamada "do mesmo diretor de Guerra ao Terror". A parceria com o jornalista Mark Boal vem se especializando num cinema que mixa linguagem de documentário e ficção, com muita câmera na mão, imagem nervosa e um tom jornalístico que evita melodrama, como na saga da caça à Osama Bin Laden em Zero Dark Thirty e agora nesse DETROIT EM REBELIÃO (Detroit, EUA, 2017) , que deverá mais uma vez se destacar nas indicações ao Oscar.


Dividido em três partes distintas em sua longa duração (2h23min), o filme abre com uma apresentação rápida para situar os conflitos raciais que chegaram aos motins históricos na cidade em 1967. O escopo é amplo e fez uma cobertura "jornalística" dos fatos, com algumas imagens reais e uma reconstituição eletrizante, onde vários personagens começam a se definir. O filme cresce quando foca numa noite de terror no Motel Algiers, quando a polícia cercou e atacou violentamente civis, na sua quase totalidade negros, que se divertiam com bebidas, drogas e sexo no local, pela suspeita de um possível atirador no hotel. Uma tragédia tomou conta do local, com agressão, violência e brutalidade racista de policiais "de bem" contra homens e mulheres indefesos (a maneira como os policiais racistas reagem à duas garotas brancas que estavam com os rapazes negros é angustiante), resultando em 3 homens negros mortos. Toda essa sequência é levada com maestria em tensão, domínio espacial interno e externo do motel e um elenco excelente, sendo o nome mais conhecido John Boyega (de Star Wars). A terceira parte é o inevitável processo nos tribunais, onde o filme se alonga e dá destaque dramático pouco relevante para a trajetória do jovem músico (Algee Smith) que sobreviveu ao massacre no motel. O filme, claro, está interessado mais em pensar os EUA hoje do que contar o fato histórico e, dado que muito pouca coisa mudou nos últimos 50 anos no tema do filme, vale demais ver.

Cotação: MUITO BOM
Visto no UCI Recife
por Fernando Vasconcelos



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