terça-feira, 28 de março de 2017

Parceria empolgante Shyamalan & McAvoy

Diretores que se destacam por um cinema mais autoral, pop e cativante costumam gerar fã-clube e muita expectativa. É assim com Quentin Tarantino e com poucos outros cineastas atuais, entre eles M. Night Shyamalan, que conquistou o mundo com O Sexto Sentido em 1999 e manteve o hype por uma década, com filmes na maior parte memoráveis, até se perder em projetos de encomenda (O Último Mestre do Ar e Depois da Terra). Com A Visita (2015) ele recuperou o prestígio e agora, numa escala maior de sucesso de público e crítica, FRAGMENTADO (Split, EUA, 2016) confirma Shyamalan como um dos mais interessantes cineastas americanos atuais passando no seu multiplex. Longe de ser um grande filme, FRAGMENTADO é acima de tudo boa diversão, com suspense e tensão acima da média, roteiro original e direção segura, dando palco para o escocês James McAvoy brilhar como protagonista, num elenco que conta com as presenças de Anya Taylor-Joy (A Bruxa) e Betty Buckley (marcante em Fim dos Tempos do próprio Shyamalan e também no clássico Carrie, A Estranha de Brian De Palma).



Na boa sequência de abertura, conhecemos um rapaz estranho que sequestra três garotas numa festa de adolescentes. Elas ficam presas num lugar subterrâneo não identificado e ele apenas diz para elas não tentarem fugir. Cada vez que ele abre a porta para falar com elas, uma nova personalidade surge. São 23, das quais James McAvoy se delicia interpretando 4 em destaque, o sequestrador, uma senhora, uma criança de 9 anos de idade e um designer de moda bastante afetado, que sai do local e se encontra regularmente com uma terapeuta especialista em múltiplas personalidades, vivida por Betty Buckley, que consegue sobreviver a um personagem basicamente expositivo, sempre explicando ao espectador a patologia do protagonista. No processo de conflito entre as várias personalidades, todas elas temem aflorar uma vigésima quarta, perigosa e incontrolável. Mais do que isso não deve ser dito, pois ponto fraco e forte nos filmes de Shyamalan, o velho truque de reviravolta e revelações estará a caminho no terço final. 


Vale citar o anterior e bem mais eletrizante Síndrome de Caim (Raising Cain, EUA, 1992), realizado por Brian De Palma com um John Lithgow sensacional em múltiplas personalidades. O filme de Shyamalan tem um ritmo mais lento, não busca sustos nem correrias, enquanto desenvolve os personagens e enredo. Há uma narrativa em paralelo em flashbacks da infância de uma das garotas (Anya Taylor-Joy) que, mesmo com resolução pouco relevante, causa tensão pelo tema de abuso sexual e arma um jogo psicológico de gato e rato no cárcere. Se o tema pode ao final parecer apenas muleta superficial para a boa diversão, não há como negar que Shyamalan está num bom momento novamente, trabalhando com orçamento baixo, com despretensão em realizar algo "importante" e satisfazendo o espectador com bom cinema. Como designer gráfico, destaco os belos letreiros iniciais e finais, fragmentando a tela em 24 partes, e a elegante direção de fotografia de Mike Gioulakis (de It Follows - Corrente do Mal).


Cotação: MUITO BOM

Visto em cabine de imprensa Cinemark Rio Mar
por Fernando Vasconcelos

2 comentários:

Thiago Felix disse...

Excelente critica ! Gostei de saber do detalhe do letreiro. Um belo filme, muito bem planejado e executado. Fiquei curioso pra ver o do Brian de Palma :)

Fernando Vasconcelos disse...

obrigado! acompanhe o blog, vou manter atualizado